Segunda-feira 1 de maio de 2018 | Presidente Prudente/SP

Barulho histérico, por Rubens Shirassu Júnior

*Rubens Shirassu Júnior

Em 20/07/2018 às 10:23

Comunidades agridem querendo impor através de seus gritos histéricos, estridentes e amplificados em decibéis, como forma de atrair a atenção

(Foto: Ilustração/Rubens Shirassu)

Os moradores de várias cidades do Brasil estão estressados, indignados e perplexos com a poluição sonora e a perturbação do sossego público provocadas por igrejas, por seitas e comunidades evangélicas. O volume alto das caixas de som entrecortado por gritos, choros e exaltações a Deus, de forma desesperada pelos devotos, que clamam por mudança em suas vidas, no sentido dos equilíbrios financeiro, espiritual e físico, ou na questão de saúde.

Fica difícil classificar o que seria isto: um espetáculo teatral, de fundo emocional, de fanatismo exacerbado, com doses exageradas mesclando mediunidade do espiritismo, pela ânsia do que almejam, expressam confusamente palavras desconexas, sem clareza e sem objetividade, declarando ser uma língua que não pertence ao mundo terreno, além de exporem o íntimo aos confrades.

Esses adeptos do messianismo estão infringindo, primeiramente, a Lei de Contravenções Penais, no Artigo 42, quanto ao item da Lei de Perturbação do Sossego – com gritaria e algazarra, com abusos de sinais acústicos, invadindo as moradias e tirando o sossego de aposentados, de gestantes, de recém-nascidos e, principalmente, de uma faixa etária entre 60 a 90 anos, portadores de alguma doença degenerativa, a exemplo de câncer ou mal de Alzheimer.

As comunidades agridem querendo impor através de seus gritos histéricos, estridentes e amplificados em decibéis, como forma de atrair a atenção do público dos bairros e arredores, para que venham visitar e, automaticamente, tornaram-se frequentadores assíduos de seu culto, de seus conceitos e de seus hábitos, de seus costumes e do modo de vida.

Tal ação estratégica primária invade também o universo particular. Por outro lado, o ato traz apatia, soa inconveniente e irritante. Uma grande parcela dos cidadãos chega após uma jornada intensa de trabalho e busca o descanso, o conforto e o sono tranquilo.

Que fique bem claro aos leitores: não sou contra a opção religiosa desses seguidores de comunidades e de seitas, pois tenho consciência do livre-arbítrio existente em nosso País. Percebe-se, sim, a falta de educação, de bom senso e de respeito à individualidade dos moradores.

Assim, deve-se alertar aos fiscais da prefeitura a notificarem e façam os pastores cumprirem as normas, providenciando a instalação de acústica e portas adequadas, como acessórios que isolam o som.

Verificar, também, se possuem o alvará de funcionamento e registro em cartório. Pelo que dispõe o Código de Obras alguns bairros são estritamente residenciais e existe artigo especifico que discorre sobre o impedimento de maquinário poluente em todos os sentidos.

Além de contravenção penal, o bombardeio constante de som elevado trará problemas auditivos, pois altera o metabolismo do corpo humano aos moradores, além de outros males, decorrentes do alto stress. Acrescenta-se que a poluição sonora é prevista no artigo 54, da Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal Nº 9.605/1998).

Neste “vale tudo” apelativo em que vivemos, desde o começo predominou a geocultura pelas fortes influências das teorias europeias, uma prática que dura mais de 50 anos. Se o mesmo primitivismo está por trás do que acontece no Oriente Médio, devemos ficar atentos ao perigo do fundamentalismo e do fanatismo religioso, um dos violentos freios sociais. Este é um reflexo de que o Brasil tem vocação para a autofagia social.

*Rubens Shirassu Júnior é escritor e pedagogo
 

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