Segunda-feira 1 de maio de 2018 | Presidente Prudente/SP

Quero viajar!

Eliseu Visconti*

Em 22/04/2009 às 13:38

Nunca perdi o apetite pelas viagens. Já são 50 idas ao Exterior, a serviço ou por só por lazer.

Pagava-me o patrão a passagem, estadia e refeições, quando no interesse da empresa ou do órgão para quem eu trabalhava. Na condição de turista, juntava os meus caraminguás, contraía empréstimo, se fosse o caso, e lá ia, à “Oropa, França e Bahia,” com maior freqüência que pudesse.

 

A vida apertou, mas jamais abri mão das viagens; elas são o meu fator de sanidade, mais vitais do que qualquer outro prazer ou divertimento. Com a chegada dos planos de milhagens, passei a concentrar todas as minhas compras nos cartões que creditam uma milha para cada dólar ou equivalente que se despender. Os cartões da categoria “platinum” são mais generosos. Alcançado um determinado número de milhas, qualificamo-nos a um bilhete de ida e volta, dependendo da empresa aérea.

 

Tenho acumulado milhas há dois anos no meu cartão Platinum, e finalmente chegou o dia: este ano irei pleitear o meu bilhete e complementar o de uma acompanhante. Vali-me da época em que o dólar andava em baixa, e acumulei um pouco. É claro que investi o salário de férias e o 13º, e comprei, às vezes, o que não precisava, só para ganhar mais algumas milhas e chegar à beira do sonho.

 

Mesmo ganhando um bom salário, viajar ao exterior é caro. O turismo no Brasil, diga-se de passagem, está mais dispendioso ainda, com seus preços de passagens e hotelaria quase que extorsivos.

 

Todo este preâmbulo, amigos, foi para registrar a minha mais profunda revolta pela mais recente vergonheira, trazida a público pela mídia, qual seja, a da injustificável complementação salarial de membros do Legislativo Federal, sob a forma de passagens aéreas. Serão elas tributadas pelo Imposto de Renda?

 

O que nós, respeitável, mas desrespeitado público imaginávamos, é que cada deputado ou senador tinha uma cota de quatro passagens por mês, para visitar a sua base eleitoral, e vir ao Rio de Janeiro – resquício do tempo da mudança de capital para Brasília. 

Compreende-se que um parlamentar visite as suas bases, e que para isso sua viagem seja remunerada. Mas estender o benefício a familiares, amigos, e até mesmo a amantes? Isto é o cúmulo da desfaçatez e da falta de ética, inda mais se dermos ouvidos ao que declarou um deputado a um jornal de São Paulo, que pratica esta licenciosidade porque não é proibida.

 

O conceito de ética tem sido definido por uma infinidade de filósofos e especialistas, e o argumento que mais se usa no Brasil, é que “se as leis e os regulamentos não proíbem, pode-se fazer.“ A raiz da triste situação em que este país se encontra, em que algo pode ser imoral, desde que não seja ilegal, tem levado à falência das nossas instituições, à legislação copiosa, onde os diplomas legais têm 200 e 300 artigos, feitos para prevenir abusos, que seriam evitáveis, caso existisse observância ao comportamento ético.

 

O Instituto de Ética Mundial define a ética como a “obediência ao que não pode ser obrigatório. Pode se obrigar alguém a obedecer a uma lei, mas ética, como já se disse, é o que você faz quando ninguém está olhando.”

Esta definição devia ser impressa em grandes cartazes e murais, e ser afixada nos mais diversos locais, além de incluída em todos os livros e cadernos escolares, como forma de incutir à população desta e de todas as gerações futuras, que a ética decorre, sobretudo, da consciência individual e coletiva de uma nação.

Onde existe ética existirá o respeito e relações mutuamente aceitáveis e proveitosas.

E o exemplo há de partir de cima, daqueles que elegemos como nossos representantes.

 

Eliseu Visconti é jornalista e escritor.

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