Rubens Shirassu Jr.
Em 03/03/2009 às 13:03
Nenhuma palavra expressa a nossa perplexidade diante do universo feminino do que a palavra Cacilda! Mas quem quer usar a palavra não para fascinar, mas para transmitir um pensamento ou apenas desabafar encontra um desafio maior, pois a expressão Cacilda tem dois lados. Dependendo do estado de espírito soa picante e com dose pejorativa. Pela história mostra as raízes de nossos hábitos e costumes machistas.
Uma das tantas teorias é a angústia do pênis exposto no começo da civilização. Quando os primeiros homens desceram das árvores e foram morar na savana, por andarem eretos e terem que pegar as frutas foi que seus órgãos sexuais ficaram expostos ao escrutínio público. Por complexo de inferioridade, os machos tomaram providências, começando por tapar suas vergonhas, para não darem às fêmeas a chance de organizarem uma sociedade de acordo com a sua observação da novidade e determinarem que os mais potentes teriam o poder – o que inviabilizaria qualquer tipo de hierarquia baseada na inteligência e, principalmente, na antiguidade, além de decretar o fim da linhagem dos cacetes pequenos, que nunca se reproduziriam. A civilização começou pelas calças, ou o que quer que fosse a moda de tapa-sexos nas savanas.
Todas as afirmações masculinas que independem do pinto – foram, de um jeito ou de outro, uma extensão das primeiras calças. Um disfarce, um estratagema do macho para roubar da fêmea o seu papel natural de guiar a espécie escolhendo o reprodutor que lhe serve pelas suas credenciais mais evidentes e não pelas suas poses ou poemas. Toda nossa cultura misógina vem do pavor da mulher que quer retomar seu poder pré-histórico e, não sendo nem prostituta nem nossa santa mãe, nos tirar as calças.
Mas, em comparação com o que a mulher, historicamente, sofreu num mundo dominado por homens e seus terrores, o que ela sofre com a Natureza é Cacilda, com trocadilho. No entanto, dentro da política representativa do homem, deixamos elas cuidarem de nós como macacos, usando a palavra Cacilda, como pretensão mal-disfarçada de nossa dependência e carência afetiva.
* O autor é designer gráfico e escritor
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