Maycon Morano
Em 16/12/2010 às 15:37
O intenso fluxo de carros em Presidente Prudente é notório a todos que vivem na cidade ou para quem vem de fora. Isso se deve muito à falta de planejamento na criação das ruas e avenidas do município, de acordo com o secretário municipal de Assuntos Viários (Semav), Luiz Abel Gomes Brondi. Em entrevista à serie especial do Portal, ele pontua os principais problemas e aponta as possíveis soluções para a malha viária da maior cidade do Oeste Paulista, tocando no tema de radares eletrônicos, transporte coletivo e mudanças de avenidas.
Formado em engenharia civil pela Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), Brondi, 45 anos, sempre trabalhou nesta área. No início de sua carreira, no setor de perícia e gerenciamento de riscos numa empresa de segurança patrimonial. Depois, na construção de casas populares. Seu último trabalho antes de se tornar secretário do atual governo municipal foi na implantação do Parque Aquático da Cidade da Criança.
Confira abaixo a entrevista com o secretário de Assuntos Viários:
Portal: Qual o principal problema do trânsito de Presidente Prudente?
Abel Brondi: São visíveis as impossibilidades que nós temos com as limitações físicas do nosso sistema viário na área central e até num raio de 800 metros a um quilômetro a partir do quadrilátero central. Além disso, tem a questão de espaço físico. São muitos veículos próximos uns dos outros, num local onde também têm muitos pedestres. Sem dúvida o maior problema é o fluxo dos veículos.
P: Como resolver este problema?
AB: Tem que se pensar em obras, tem que pensar, também, em investimentos de modificação de estrutura viária. Mas o ideal, ao menos de início, é a definição de pontos críticos nos quais podem ser feitos desvios, caracterizar uma rota nova, uma alternativa para evitar congestionamentos. Essas obras implicam, ainda, em desapropriações de áreas que são super valorizadas em Prudente. E para realizá-las, a administração pública precisa de verbas. Para isso, estamos buscando recursos federais e estaduais desde o ano passado através de projetos. Foram mais de 20 nestes dois anos.
P: Hoje se vê muitos trabalhos educativos da Semav, qual a importância deles?
AB: A faixa elevada foi um dos principais trabalhos de conscientização, além dos projetos desenvolvidos. A criança não é ativa no sistema viário, mas é obrigação nossa prepará-la para ter uma boa qualidade de vida com segurança no futuro. Outra condição é a psicológica. Prudente é uma cidade quente, ninguém gosta de ficar parado no sinaleiro com um calor de 40 graus. Isso muda o comportamento. É comprovado psicologicamente que isso traz uma ansiedade. Então, essa educação no trânsito serve para a conscientização da população.
P: Prudente cresceu, e deve continuar crescendo, isso ajudou a aumentar os problemas do sistema viário?
AB: Nós temos uma cidade que vem crescendo de uma maneira que ninguém esperava. Prudente tem potencial de crescimento mais do que já cresceu nos últimos quatro ou cinco anos. E aconteceu aqui o que aconteceu em todo o Brasil, que foi um aumento na frota de carros. Mas Prudente e o Brasil não estavam preparados para isso, porque não houve investimento em infraestrutura viária. Não se preparou para receber o aumento da frota de veículos.
P: Esse aumento da frota de Prudente foi considerável?
AB: Para se ter uma ideia, em 2008 Prudente tinha uma frota de 85 mil veículos. Hoje, 2010, são 129 mil veículos, sendo 30 mil motos. É um índice alto. Além disso, a frota flutuante é muito alta. No horário do meio dia até as 16h, na área central, a proporção de veículos com placa de Prudente e placa de fora é um por um. Em determinados períodos dentro do horário comercial essa frota que não é fixa na cidade chega a 12, 14, até 15 mil veículos. Isso interfere num sistema viário problemático e que não teve investimentos para mudanças.
P: Quais são os pontos mais críticos de Prudente?
AB: São o quadrilátero central; a rotatória do museu e a rotatória da Semav, no cruzamento do Parque do Povo com a Coronel Marcondes; a Avenida Brasil, no trecho da rodoviária até o final, próximo à Vila Jesus; e a Vila Marcondes, porque os veículos da região vêm pela Ângelo Rena e fazem seu acesso por ali.
P: Uma solução para o alto fluxo do trânsito em Prudente seria o rodízio?
AB: Eu acredito que por enquanto ainda não. Nós tratamos muito superficialmente essa questão, mas não creio que tenhamos a condição de fiscalizar, de acompanhar. Ter ideias é uma coisa, ter estrutura é outra.
P: E radares ou lombadas eletrônicas, há a possibilidade de serem instalados em Prudente?
AB: Há a possibilidade sim. Principalmente porque existem alguns trechos da cidade que estão com perigo de vida. Alguns motoristas não respeitam trechos críticos. E quando eu falo motorista, não falo prudentino. Nesses casos de infrações de excesso de velocidade, manobras perigosas, são feitas sempre pelos mesmos motoristas. Existem três projetos para busca de dinheiro para a aquisição dessa lombada educativa. Mas não adianta colocar só para mostrar a velocidade e efetuar um apito sonoro. Mesmo tendo um período educativo, se não entrar com procedimento de punição, nós vamos jogar dinheiro fora. Vamos administrar mal o dinheiro público. Por isso tem que ter autuação, multas, para que as pessoas se conscientizem. Ela traz o efeito de redução de número de acidentes, isso é provado em outras cidades.
P: E a ideia de transformar algumas avenidas em mão única, como é feito em Maringá, é viável em Prudente?
AB: A principio em Prudente é praticamente impossível. A não ser que tenha um investimento muito grande em infraestrutura com a abertura de novas avenidas, por exemplo. Porque precisa de outras vias que fazem a interligação entre elas e aqui em Prudente nenhum lugar tem. Além disso, na área central eu tenho áreas estritamente residenciais. Não tenho como proibir de estacionar porque ali vai virar uma via expressa. Prudente não tem condição. Outro exemplo: Maringá tem canteiro de 5, 6 metros de largura. Em prudente ele tem 1,80 metro. Como eu vou permitir que o motorista fique parado no meio da pista para fazer a conversão à esquerda ou à direita? Seria irresponsabilidade de nossa parte.
P: Os prudentinos reclamam que o transporte coletivo é muito caro para o serviço que é prestado e pelo porte da cidade. O que acontece e qual é a solução?
AB: O problema aqui é que todo mundo usa carro. Quanto menor o número de pessoas utilizando o serviço, maior o custo. E isso interfere na planilha técnica, na qual é baseada para se chegar ao aumento de tarifa pelo custo. Além disso, nós não permitimos aumento todos os anos. A tarifa eleva apenas de acordo com a inflação, como aumenta tudo, todo ano. Como o salário das pessoas também aumenta.
P: Quais as principais mudanças que sua Pasta realizou no trânsito da cidade em 2010?
AB: Retirada de conversões à esquerda, que são um risco e que é uma coisa antiga do nosso sistema; as faixas elevadas; a abertura da Avenida Hugo Lacorte Vitale; mudanças no trecho da Avenida Coronel José Soares Marcondes, da Rua Wiston Churchil até o Hospital Estadual com novos sinaleiros. Além disso, têm as obras estruturais, como recapeamentos, a abertura da passagem de nível na antiga Lótus para que os caminhões não entrem no Jardim Planaltina. E também uma maior atenção a todos os distritos, com a sinalização viária.
P: E para 2011, quais os principais projetos?
AB: Em janeiro devemos concluir o Plano Diretor do Sistema Viário de Presidente Prudente, que irá apontar os problemas para que não sejam cometidos no futuro e as possíveis soluções. E estamos licitando duas coisas: a implantação de uma sinalização de orientação mais intensa, com 130 placas aéreas que mostram o destino dos locais na cidade, com recurso de R$ 250 mil do governo federal; e uma emenda com o Ministério do Turismo para implantação de placas de pontos turísticos na cidade.