Maycon Morano
Em 18/12/2010 às 11:27
A atual expansão de Presidente Prudente em diversos setores se deve, principalmente, ao fim da “guerra política” que o município sempre viveu, de acordo com o secretário de Planejamento e Habitação, Laércio Alcântara.
Nascido em Pirapozinho, o engenheiro civil que está em sua primeira gestão como secretário de uma Pasta municipal também revela, na série de entrevistas especiais do Portal, como a cidade venceu os grupos políticos para retomar sua expansão. Ele lembra que foi o primeiro convite que aceitou, pois “não queria trabalhar com um prefeito que tivesse o rabo preso”.
Entretanto, ele atua na Prefeitura desde 2 de janeiro de 1976, quando foi encaminhado através da Guarda Mirim – hoje Fundação Mirim, da qual é presidente voluntário. Neste período também exerceu todos os cargos possíveis como funcionário da Câmara Municipal. Alcântara brinca que “conhece até as baratas” do Executivo.
Além da profissão inicial, o secretário de Planejamento de Presidente Prudente é engenheiro de segurança do trabalho formado pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), gestor de projetos internacionais, formado pela Universidade Senai de Santa Catarina e, atualmente, cursa gestão de finanças na Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Confira abaixo a entrevista completa com o secretário de Planejamento de Prudente:
Portal: Como o senhor vê esse “boom” imobiliário e do crescimento da cidade?
Laércio Alcântara: Eu sou um privilegiado porque trabalho aqui desde o [ex-prefeito] Walter Leme Soares. Então eu vi muita coisa. Prudente dependia muito de momento político para o desenvolvimento econômico. Quando eu comecei a trabalhar com o prefeito [Milton Carlos de Mello, Tupã] eu disse que a primeira coisa que deveríamos fazer era parar com as brigas políticas. Disse: o senhor é prefeito de uma cidade, não de um grupo político. E feito isso a cidade começou a andar. Hoje ninguém segura Presidente Prudente mais. A cidade está “bombando”.
P: Essas brigas políticas atravancavam o crescimento do município?
LA: Com certeza. Prudente vivia num campo de guerra. Aqui era um grupo de um lado atacando um grupo do outro lado. Isso atravancava a cidade. Hoje o prefeito conversa com todo mundo. Ele não deixa de ir conversar com o governador [do Estado] para ajudar uma empresa a se instalar na cidade porque isso vai ajudar o “fulano” que é do outro grupo político, oposto ao dele. É claro que ele tem sua origem política, mas ele trabalha para mais de 200 mil prudentinos. Ele trouxe todo mundo para trabalhar pela cidade.
P: Existia o “boicote” a obras de grupos políticos opostos?
LA: Existia uma falta de apoio. Um pensava assim: essa construção é de outro grupo econômico, então vai me tirar tal coisa, então não aprova o projeto de outro. Isso não tem mais. Antes nós tínhamos dois engenheiros aqui em nossa secretaria, hoje são sete e não damos conta de aprovar todos, apesar do esforço. Enfim, existia demanda, às vezes faltava boa vontade. Eu não trabalhei antes como secretário porque gostaria que fosse com o prefeito de uma cidade unida. Gostaria de trabalhar com um prefeito sem rabo preso, que não pensa em grupos políticos.
P: Além desses entraves políticos, existe algum outro motivo da cidade não ter se desenvolvido anteriormente?
LA: As pessoas tinham medo de investir em Prudente. Agora as pessoas estão com prazer de investir aqui, elas acreditam na cidade. Antes as pessoas pegavam seu dinheiro e investiam em apartamentos em Santos para viver de aluguel. Hoje eles procurar construir uma casa, abrir uma empresa, um salão comercial. Isso se deve a ela ter percebido que compensa investir na cidade. Há 10 anos, quem comprou um terreno por R$ 10 mil, hoje vale R$ 50 mil.
P: Tratando de questões pontuais, Prudente corre o risco de ficar fora do “Minha Casa, Minha Vida”? Há a possibilidade de ocorrerem novas impugnações?
LA: É normal esse tipo de impugnação. Hoje, todo mundo impugna todo mundo. É natural do comércio. O que houve é que nós tivemos algumas dificuldades nos editais. A gente segue todas as orientações do Tribunal [de Contas da União, TCU], mas cada vez que a gente apresenta um edital, tem uma impugnação. Mas recentemente tivemos um parecer favorável. Agora estamos reunindo nossas equipes para fazer as modificações de acordo com o que o Tribunal ordenou e vamos apresentar. Para não haver mais embargos, nossa preocupação é ver se o Tribunal analisa previamente os documentos, para depois dar “ok”, já que eles são muito complexos e cada desembargador que analisa o faz com um ponto de vista diferente. Esperamos que em 2011 possamos concluir a licitação, que está suspensa. No Brasil caminha da seguinte forma: é mais difícil vencer a burocracia do que a construção. Depois que vencermos a burocracia, as casas ficam prontas em 15 meses.
P: Prudente tem déficit habitacional?
LA: O déficit que Prudente tem está sendo suprido pela iniciativa privada. Nós temos hoje em andamento, para aprovação, mais de 10 novos loteamentos, do padrão alto até o mais baixo. Além disso, estamos nesses dois anos de governo brigando para que a CDHU [Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano] faça um conjunto habitacional em Prudente e isso já foi aprovado. Já doamos uma área para fazer na região dos bairros Augusto de Paula e Humberto Salvador, para a construção de 200 novas unidades. Nossa parte, que é a burocrática, já esta pronta. O projeto já esta pronto, já estamos fazendo a sondagem de solo, enfim, tudo o que a CDHU já exigiu, esta pronto. Esperamos que no começo do governo [Geraldo] Alckmin possamos assinar esse contrato.
P: O edital de saneamento finalmente sai em 2011?
LA: Após todos os trâmites, que foi o Plano Municipal de Água e Esgoto; a Agência Reguladora; e a audiência pública para explicarmos para as empresas interessadas e a população como será, o edital de saneamento deve ser lançado ainda este ano. Não há a possibilidade de ser embargado novamente. A Prefeitura já venceu todos os processos jurídicos que porventura havia nessa modalidade de licitação.
P: E o novo cemitério de Prudente, sai quando?
LA: Já foram aprovadas todas as licenças ambientais, foram dois anos para se consegui-las. Concluímos agora. São R$ 20 milhões de recursos da Prefeitura, que ela não tem no momento. Vamos pedir verbas estaduais e federais. Será em uma grande área ambiental de serviços, onde hoje estamos finalizando o aterro sanitário e também é a área onde se joga a galhada, perto da estação de tratamento e esgoto, enfim, facilitará tudo.
P: Como foi o ano de 2010 para a Secretaria de Planejamento?
LA: Nós temos que planejar sempre o próximo ano. Costumo dizer que 2010 foi feito em 2009. E esse ano foi a mesma coisa. Entregamos agora em dezembro o planejamento para 2011. O que teve de especial neste ano foi o pacote de obras de R$ 110 milhões junto com todas as secretarias, dentre elas destaco a reestruturação da área da Saúde. Mas a maior realização foi ajudar a reorganizar a parte administrativa da Prefeitura. De uma forma geral foi melhorar a gestão pública, no sentido da gente poder organizar a máquina pública para diminuir custos. Deixar de gastar um dinheiro com burocracia para investir em medicamentos ou na merenda escolar, por exemplo. Fizemos o Plano de Água e Esgoto, Plano de Drenagem Urbana e também estamos ajustando no Plano de Sistema Viário.
P: E qual o planejamento para 2011?
LA: Em janeiro o prefeito irá lançar o novo pacote de obras que públicas que deve ficar no mesmo valor [R$ 110 milhões], mas também buscando dinheiro com a iniciativa privada. Ainda não está tudo definido porque entreguei ao prefeito esta semana, ele ainda vai decidir o que vai colocar ou retirar. O destaque será a reestruturação do setor de Educação, mas já estamos começando a pensar em 2012.