Segunda-feira 1 de maio de 2018 | Presidente Prudente/SP

Medalhistas apontam retrocesso e veem esporte prudentino na UTI

ROGÉRIO MATIVE E SÉRGIO BORGES

Em 09/10/2020 às 10:32

Piso emborrachado da pista da Unesp apresenta deformações em toda extensão, o que pode ocasionar lesões graves

(Foto: Sérgio Borges/NoFoco)

Após a realização de grandes eventos ou de conquistas marcantes, a pergunta mais utilizada pelos envolvidos com o esporte é: qual o legado? Depois de 20 anos de ser o "berço" do triunfo no revezamento 4x100m dos Jogos Olímpicos de Sydney, a cidade de Presidente Prudente vive praticamente o mesmo cenário antes visto: esporte 'abandonado e na UTI'.

Esta é a opinião compartilhada por dois dos maiores nomes do atletismo nacional: Jayme Netto e André Domingos. Para eles, houve retrocesso ao longo de duas décadas culminando em falta de políticas públicas no fomento do esporte de formação e competitivo em Prudente.

"Desde 1980, eu nunca vi um cenário tão ruim para o esporte de Prudente em todas as modalidades. E isso culmina com o atual momento político em todas as esferas. E é uma pena, pois Prudente sempre teve um histórico maravilhoso de formação de atletas das mais diferentes modalidades, de equipes coletivas ou de esportes individuais. É muito triste o que se vê hoje", lamenta o treinador responsável por comandar o quarteto Vicente Lenílson, Edson Luciano Ribeiro, André Domingos e Claudinei Quirino na conquistada medalha de prata na Austrália.

Recentemente, Cláudio Souza, que participou do time, também recebeu a sua medalha com 20 anos de atraso.

Falta de iniciativa

Para ele, a crise econômica alastrada nos últimos anos e a falta de iniciativa provocaram a falência do esporte na cidade. "O esporte de formação e competitivo em Prudente não existe mais há alguns anos. Isso tem relação com alguns aspectos como as crises econômicas que vem acontecendo no país, mas também faltou uma política de gestão pública local por meio da Prefeitura e Secretaria de Esportes em fazer alguns projetos que pudessem superar esse momento", diz

"Isso poderia ser feito através de parcerias com o Comitê Olímpico, Confederações Brasileiras, Ministério do Esporte, parcerias com as faculdades pegando alunos como estagiários para fomentar escolinhas. Faltou um pouco de ação, projetos pensados entre a Secretaria, Governo e vereadores", opina.

Foto: Sérgio Borges/NoFoco

Na UTI

Na mesma linha de pensamento, André Domingos afirma que houve retrocesso por falta de "competência". "Gostaria muito de vir aqui e dizer que o esporte em Prudente e região teve uma evolução. Mas eu estaria traindo a minha honestidade ocular. O esporte em Prudente e na região está na UTI há muito tempo. Não tivemos nada de concreto na cidade e nem na região. Na cidade o que vimos durantes esses anos foi uma incompetência absurda seguida de perseguição a pessoas de bem", dispara.

"Não evoluímos. Muito pelo contrário, retrocedemos. Pioramos o que já era ruim. E quem perde com isso? Atletas, técnicos, nossas crianças. Presidente Prudente não tem esporte de base, escolinhas. Prudente não tem mais campeonato nenhum; nem campeonato de bolinha de gude tem", fala Domingos.

Segundo ele, é necessário ativar o esporte social. "É levar o esporte para os bairros. Tirar nossas crianças do vazio, mostrar para elas que é bacana fazer esporte. Ativar todas escolinhas e criar muito mais escolinhas em todos os bairros de Prudente", frisa. 

Foto: Sérgio Borges/NoFoco

No Dia do Atletismo, o que comemorar?

Nesta sexta-feira (9), é comemorado o Dia do Atletismo no Brasil. Mas, o que celebrar em Presidente Prudente após a conquista da prata em Sydney? A esperança daqueles que participaram do triunfo brasileiro garantido por meio de treinos improvisados em uma pista esburacada era de que a modalidade ganhasse projeção tornando a cidade em um celeiro de novos talentos.

O tempo passou e o cenário visto atualmente é de uma pista, mais uma vez, deformada, e de abnegados que lutam para manter projetos de incentivo ao atletismo. "A medalha é viva em meu coração. Parece que foi ontem essa conquista. Todos os meus projetos e o reconhecimento que tive estão 100% ligados a ela. Mas, a medalha não muda o cenário esportivo. O que muda é a atitude e postura dos atletas, que devem ser cada vez mais profissionais. E hoje não vejo isso dos atletas, como a gente era", crava Vicente Lenílson.

"O nível nacional está forte. Temos grandes atletas, mas com pouca maturidade. Acredito que daqui há 10 anos possamos ter - se a tecnologia não mudar o mundo esportivo, pois as redes sociais estão estragando os atletas da iniciação, um time muito forte", complementa.

Foto: Sérgio Borges/NoFoco

Ao citar a palavra 'superação' como fator da conquista da medalha de prata nos Jogos Olímpicos em 2000, Jaime Netto diz que o reconhecimento pelo triunfo ajudou na reforma da pista da Unesp de Prudente. Contudo, a ausência de políticas públicas ocasionou a deterioração desse legado.

"As condições não mudaram muito. Conquistamos reconhecimento, melhora na pista. Mas isso faz 20 anos. Hoje, a pista já está completamente deteriorada, o que é normal pelo clima. E os programas talvez sejam os mesmos ou piores. Pois, atualmente, estamos passando por uma crise econômica, política e social. E isso interfere muito no esporte. Hoje, o cenário não mudou muito do visto na época", fala.

Sonho não realizado

"Eu acreditava que a gente pudesse construir e manter todo o trabalho que foi feito em Prudente, com mais de 30 atletas olímpicos. Na minha estada, foram três conquistas de medalhas que eu participei como treinador. Mas, infelizmente as políticas públicas aplicadas no município e no país não viram dessa forma. E, com o tempo, foi se perdendo", observa.

Para o treinador, o esporte ainda é a melhor ferramenta para realizar intervenção social e, desta forma, tirar crianças e jovens do mundo das drogas e do crime. "O próximo gestor tem que tentar mudar esse cenário, pensar diferente para poder o esporte renascer em Prudente. Pois, ele não existe hoje", pontua.

Foto: Sérgio Borges/NoFoco

"O esporte e meus feitos olímpicos me presentearam com duas faculdades. Hoje sou um arquiteto urbanista e educador físico graças a minha trajetória do passado como atleta. Acreditava que os olhos dos políticos pudessem estar voltados de forma mais séria para o esporte. Vejo um cenário de retrocesso. Fico triste e, ao mesmo tempo, indignado com o descaso com nossas crianças, jovens adolescentes e amantes do esporte por não terem a oportunidade de praticar modalidades", complementa André Domingos.

Compartilhe
Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do Portal Prudentino.

Fique tranquilo, seu email não será exibido no site.
Notícias Relacionadas

Telefone: 18-98122 7428

© Portal Prudentino - Todos os direitos reservados.