Segunda-feira 1 de maio de 2018 | Presidente Prudente/SP

Estaca 1.807: Goulart, Fairbanks e a fundação de Presidente Prudente

Maycon Morano/AI Câmara Municipal

Em 14/09/2024 às 11:46

Celebração dos 40 anos de fundação de Presidente Prudente. Ao centro, sentados, Goulart, Fairbanks e Dona Bella

(Foto: Acervo/Museu Histórico PP)

Era 13 de setembro de 1917. Depois de atravessar extensa mata virgem, o grupo comandado pelo herdeiro daquelas terras aportou na Fazenda Pirapó-Santo Anastácio. Aos trabalhadores sertanejos que o acompanhavam, o Coronel Francisco de Paula Goulart determinou a construção de um rancho para alojamento dos homens.

Perto dali, o fundador da cidade foi apresentado ao engenheiro responsável pela construção da ferrovia, João Carlos Fairbanks. A nova Estação da Estrada de Ferro da Sorocabana, que receberia o nome do primeiro presidente civil do Brasil, Prudente José de Morais Barros, seria construída a 10 metros da estaca número 1.807 da ferrovia, conforme apontou o Prof. Dr. Dióres Santos Abreu, em seu livro “Formação histórica de uma cidade pioneira paulista: Presidente Prudente”, fruto de sua tese de doutorado, defendida em agosto de 1970.

Goulart solicitou então ao engenheiro que lhe projetasse um núcleo urbano em frente à futura estação, onde era mata virgem, traçando o que seria o limite: de um lado a fazenda e do outro a futura cidade. Este primeiro traçado é, atualmente, a Avenida Washington Luiz.

Depois, o coronel ordenou que os homens começassem, no dia seguinte, a derrubada da mata para uma roça de milho. Era 14 de setembro de 1917 e se iniciava a fundação da então Vila Goulart.

Com o passar dos meses, sem muitas regras de tamanhos, aumentavam o número de compradores dos lotes que Goulart projetou e novas necessidades iam surgindo. O próprio coronel construiu um alambique para fornecimento de cachaça aos moradores. O empreendimento, aliás, seria primordial anos depois. 

A venda das terras e a criação de um núcleo urbano, aliás, foi incentivada muito por sua esposa Izabel Dias Goulart, a quem carinhosamente era chamada de Dona Bella – hoje lembrada em nome de rua na área central da cidade. A mulher, inclusive, mudou-se para a incipiente vila para demonstrar aos compradores a possibilidade de se construírem vida nova em um local distante. Bella também era a principal conselheira política e dos negócios do Coronel Goulart.

“Ao lado de Francisco de Paula Goulart, sua esposa Izabel participava de seus planos e ações. Teve um importante papel na vida do casal de fundadores, enfrentando todas as dificuldades que a falta de comunicação, estradas e infraestrutura da nova cidade impuseram ao casal que nos primeiros anos se estabeleceu no nascente núcleo urbano. Isso sem falar das perseguições e atentados que Goulart sofreu no início da vida administrativa e política da cidade. Continuamente envolvido em rivalidades políticas, tinha, na sua mulher, um esteio forte”, ressaltou em artigo sobre Dona Bella, o historiador e ex-diretor do Museu e Arquivo Histórico “Prefeito Antonio Sandoval Netto” Ronaldo Macedo, que faleceu em 2021.

Em 1919, com a inauguração da estação que levou o nome de Presidente Prudente, o fluxo de pessoas aumentou consideravelmente. Com elas, chegou também o colonizador Coronel José Soares Marcondes, que se tornaria rival e, em momentos necessários, aliado de Goulart, para vender e povoar as terras do lado oposto da estação: a Fazenda Mont’Alvão. Surge, aos poucos, a Vila Marcondes.

Conforme Abreu, o Recenseamento de 1920 constatou a presença de 846 pessoas na cidade (251 crianças entre 5 e 12 anos). Assim, com o crescimento do povoado e a necessidade de unificação das vilas para buscar melhorias junto ao governo, já que impostos eram recolhidos (Conceição de Monte Alegre e Campos Novos do Paranapanema disputavam o povoado, o que gerava dupla fiscalização e taxação), iniciaram-se a discussões sobre escolha dos nomes.

Em seus primórdios, o lugarejo chamava-se Alto Tamanduá. Depois, ficou conhecido como Patrimônio do Veado, por conta do Córrego do Veado. Mas a população não gostava do nome e foi sugerido outro, Patrimônio da Anta, já que haviam muitas delas.

A nomeação do povoado em homenagem ao ex-presidente da República foi oficializada em 1921. Em 14 de outubro daquele ano, o então Presidente do Estado, Washington Luís, visitou o núcleo urbano e, em 28 de setembro, foi sancionada e publicada a Lei Nº 1.798, que criou o município de Presidente Prudente.

No ano seguinte, foi aprovada e sancionada a Lei Nº 1.887, de 8 de dezembro, que criou a Comarca de Presidente Prudente, publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo no dia 14 de dezembro de 1922. No mesmo dia, ocorreu a primeira eleição para escolha dos vereadores.

Apesar da expectativa de uma nova fase para a, agora, cidade, a eleição foi marcada por confusão entre goulartistas e marcondistas – grupos políticos dominantes e capitaneados pelos dois coronéis.

Durante boa parte do ano de 1923, Presidente Prudente funcionou com duas Câmaras. A decisão veio por meio do Tribunal de Justiça do Estado, em processo sob o nº 6.615, com julgamento em 20 de agosto.

Após a contenda judicial, a atual capital da Alta Sorocabana, enfim, se emancipa político-administrativamente com a instalação da Primeira Câmara Municipal de Presidente Prudente, em 27 de agosto de 1923, com a seguinte constituição: Pedro de Mello Machado, Francisco de Paula Goulart, Luiz Ramos e Silva, Antônio Queiróz Sobrinho, Emílio Mori e Ulysses Ramos de Castro. Entre estes, foi eleito o primeiro presidente da Casa, o Coronel Goulart, e o primeiro prefeito, Pedro de Mello Machado.

O coronel Goulart ainda viria a ocupar o cargo de chefe do Executivo em duas ocasiões: de janeiro a agosto de 1924 e de fevereiro a dezembro de 1925. Cabe ressaltar que, à época, prefeito e vice eram nomeados pelo presidente do Estado.

Em 107 anos de fundação, a então Vila Goulart cresceu com a “Marcha do Café”, recebeu os louros da transição para o algodão, sendo um dos maiores plantios desta cultura no país, juntamente com a menta. Depois, a pecuária também se tornou expoente, chegando aos dias atuais, com a economia voltada para comércio e prestação de serviços, sendo a capital da 10ª Região Administrativa do Estado de São Paulo.

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