Segunda-feira 1 de maio de 2018 | Presidente Prudente/SP

Unesp de Prudente é contemplada com biofábrica de R$ 5 milhões

Da Redação

Em 19/12/2024 às 15:50

Instalação da biofábrica na região de Presidente Prudente se baseia na realidade de degradação dos solos e ecossistemas das áreas em que os assentamentos foram implantados

(Foto: Cedida/AI)

O Centro de Estudos em Educação, Trabalho, Ambiente e Saúde (Ceetas) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Unesp de Presidente Prudente contará com uma biofábrica, que será instalada no espaço do Quintal Agroecológico. O projeto foi contemplado pelo Edital da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), captando, no total, o valor de R$ 5 milhões para serem investidos durante três anos. A ação também será desenvolvida em outros três campi da Unesp.

O coordenador geral do projeto “Redes Sociotécnicas de Cadeias Produtivas Biodiversas e/ou Agroecológicas na Agricultura Familiar e de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais”, Prof. Dr. Carlos Alberto Feliciano, do Departamento de Geografia da FCT Unesp, conta que o objetivo central do projeto é criar uma rede de fábricas de bioinsumos.

"Para atender a agricultura familiar e os povos originários e tradicionais no que diz respeito às sociotecnologias da agroecologia, associadas a iniciativas que resolvam desafios identificados em cadeias produtivas do estado de São Paulo, envolvendo a produção, a transformação e a comercialização de produtos da sociobiodiversidade constituindo um ecossistema favorável ao desenvolvimento das cadeias socioprodutivas da bioeconomia e da agricultura familiar agroecológica”. 

Segundo o professor, aproximadamente 4 mil famílias serão beneficiadas pela rede de fábricas de bioinsumos, incluindo indígenas, lideranças femininas caboclas remanescentes de quilombos, pescadores artesanais e camponeses assentados em área de reforma agrária e agricultores familiares. 

Em Presidente Prudente, onde se concentra o maior número de assentamentos da reforma agrária do Estado de São Paulo, a biofábrica trabalhará com a multiplicação de microrganismos com base na lógica do sistema on-farm, para fornecer bioinsumos para o desenvolvimento de pesquisa, experimentação e validação da tecnologia junto a famílias assentadas na região, além do treinamento e capacitação de agricultores. 

“As biofábricas propostas na rede do projeto poderão interagir, disponibilizando bioinsumos para as diferentes regiões e comunidades envolvidas no projeto. Assim, teremos à disposição bioinsumos, microrganismos entomopatogênicos, parasitóides, predadores e extratos vegetais, visando o manejo integrado das pragas e solos e uma maior oferta para atender agricultores interessados na transição agroecológica que é uma demanda recorrente, apresentada para os governos como demanda de política pública”, conta Carlos.

Os bioinsumos têm eficiência no controle de pragas, insetos, doenças e ervas daninhas, com a vantagem de preservar o meio ambiente. Esta característica permite que o agricultor produza na sua lavoura produtos isentos de contaminação por agrotóxicos convencionais e, ao mesmo tempo, seja competitivo em termos de mercado, agregando valor ao seu produto, o que constitui fator decisivo para a sua fixação no campo, conforme ressalta Carlos: “A rede de fábricas impulsiona o processo de certificação orgânica almejado por muitos dos agricultores. E há na equipe de pesquisa o propósito de mediar esse processo, buscando coletivamente as melhores alternativas”.

A biofábrica do Ceetas

A instalação da biofábrica na região de Presidente Prudente se baseia na realidade de degradação dos solos e ecossistemas das áreas em que os assentamentos foram implantados. O docente explica que o território está cercado por monocultivos de cana-de-açúcar realizados com o uso intensivo de agrotóxicos.

“Essa equação faz com que os desafios para a produção orgânica e agroecológica nos assentamentos sejam maximizados, sendo frequente o ataque de insetos nos cultivos, bem como o adoecimento de plantas e a limitada produção de folhas e frutos, em decorrência de sistemas radiculares pouco desenvolvidos”.

Outro desafio enfrentado para o avanço da produção orgânica e agroecológica é a falta de acesso a tecnologias e insumos apropriados e capacitação, em se tratando de bioinsumos, além da escassez de materiais. Também não há capacitação e treinamento para o uso adequado. 

Devido às facilidades de instalação e ao custo mais acessível, optou-se por uma fábrica de bioinsumos modular móvel, com estruturas adaptadas, onde estão dispostos equipamentos destinados a operações unitárias de processos de fabricação de preparados microbiológicos. A unidade móvel oferece um ambiente favorável e adequado para a fabricação de preparados bacteriológicos e fúngicos em meio líquido para uso na agricultura orgânica ou convencional. 

Na região de Presidente Prudente, participarão deste projeto os assentamentos Nova Esperança, em Euclides da Cunha Paulista, Gleba XV de Novembro e Porto Maria, no município de Rosana, Roseli Nunes e São Bento, em Mirante do Paranapanema, Dom Tomás Balduíno, em Sandovalina, Rodeio, no município de Presidente Bernardes e Chico Castro Alves, em Martinópolis. São comunidades nas quais a FCT já mantém ações de extensão, apoiando as iniciativas de produção e comercialização de alimentos saudáveis. 

Nesses assentamentos serão cerca de 1 mil famílias beneficiadas, representadas pelas entidades: Associação Regional de Cooperação Agrícola (ARCA), Associação de Desenvolvimento União da Vitória (ADUV) e a Associação de Produtores Assentados da Rodeio (APAR). 

Para o coordenador, a conquista desse projeto para a região mostra outra possibilidade de desenvolvimento que seja saudável para as pessoas e para o ambiente. “A instalação dessa fábrica de bioinsumos e o apoio à comercialização de alimentos saudáveis será uma prática pioneira na região e dentro da FCT Unesp, criando assim um canal de aproximação com a sociedade local e regional. Com isso, pretendemos reafirmar a responsabilidade social da ciência, mostrando alternativas concretas de uma convivência saudável entre quem produz alimentos e quem consome alimentos na região sem a degradação da natureza”, conclui Carlos.

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