*Rubens Shirassu Júnior
Em 06/05/2016 às 13:21
(Foto: Ilustração de Michael Peck)
Perder a memória, para o indivíduo, soa como uma ameaça de morte, deixar de existir. O que significaria para um país?
Acredito que, ao contrário do que se pode imaginar, países que investiram prévia e previdentemente em cultura foram os que mais desenvolveram seu domínio sobre a reprodução da vida material, isto é, sobre os problemas prioritários. O que, em grande medida, tornou possível a solução desses desafios da existência.
Mas, a informação não pode ser apenas armazenada. Trata-se de torná-la acessível: classificá-la e organizá-la de modo que tenhamos contato com os conhecimentos (e as dúvidas) acumulados pela humanidade.
John Maynard Keynes, um obsessivo bibliófilo e colecionador de documentos, afirmou certa vez que o conhecimento da história das ideias era uma condição prévia para a liberdade de espírito, acrescentando não saber o que faria um homem mais conservador: saber apenas o presente ou apenas o passado.
O problema da biblioteca – de seu acervo, dos funcionários e equipamentos que intermedeiam o encontro entre leitor e documento - é, portanto, um problema político, parte daquilo que se tem chamado de conquista da cidadania.
As memórias de Andrei Sakharov, talvez sirvam como contraprova dessas afirmações. Um dos maiores físicos soviéticos critica os que extraem, de histórias e de situações trágicas, uma atitude obscurantista e dogmática, recusa a fé cega nas tradições pelo simples fato de serem “nossas” tradições.
Cultivando a lucidez, Sakharov aponta a abertura para as diversidades culturais e políticas como um caminho para a construção de um futuro humano.
*Rubens Shirassu Júnior é escritor
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do Portal Prudentino.