*Rubens Shirassu Júnior
Em 02/04/2016 às 08:39
Alguém já disse que o Alquimia bar não era apenas um bar, mas uma casa de ilusões, sempre à beira do concreto. Cada antigo frequentador fornecendo uma visão própria que é incomum a todos.
Na sua rápida existência, o Alquimia bar, na rua Siqueira Campos esquina com a Casemiro Dias, confirma a sua imagem de vendedor de ilusões. Para mim, essa imagem é verdadeira. Desde o início, antes mesmo da inauguração, Mário Paulo não queria ter apenas um bar, um restaurante.
Queria uma casa onde as pessoas se sentissem tão à vontade quanto um gueto permite. Por isso, batizou o bar de Alquimia, uma mistura fina de composições químicas que era mais poético, onírico, místico, atraente e globalizante. Surgiu a casa.
No primeiro ano, era um bar teatral e animado, local da moda. Depois, passou a ser, também, uma espécie de centro cultural e político. Teve a apresentação do acústico Fábio Mitio Guibu e Gutão Crepaldi nos violões.
Houve a efervescência política pré-eleitoral, com os articuladores, alguns defendendo interesses próprios, os românticos, os quixotescos, além dos candidatos e simpatizantes disputando nas mesas as preferências para os governos local, estadual e federal.
Lembro de um jantar que o Mário organizou à Casa do Poeta, numa noite de março de 1991, em comemoração ao Dia do Poeta. Ele sempre apreciou, valorizou e promoveu no espaço do bar as artes em geral. Naquela ocasião, li “Relatório do Mundo Lacrado”, de minha autoria, na companhia de Maria Aparecida Pereira de Souza, Luiz Komoda, artista plástico, a professora Afife Fazzano, entre outros colegas da entidade.
Às próprias custas Mário Paulo produziu o fanzine Alquimia Bar, tendo como editor o jornalista Roberto Prioste, em meio ao boom ou frisson das publicações alternativas de Bauru, Campinas, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, no Paraná, entre outras ações de Belo Horizonte, Juiz de Fora, Cataguases, de Minas Gerais, de Brasília, Natal, no Rio Grande do Norte, Fortaleza, no Ceará, Recife, em Pernambuco, e Belém do Pará.
Um divulgador de artista famoso (do Geraldo Azevedo), colando cartazes e fazendo o merchandising do seu novo vinil nas rádios, jornais e casas noturnas. Escritores anônimos, atores, músicos e artistas plásticos, a exemplo dos objetos curiosos, instigantes e sensoriais criados pelo Bertô, buscando divulgar seus trabalhos. Performances acontecendo na casa que não era especializada.
Quando o nome usado ainda era o antigo happening. Poetas lendo seus poemas de mesa em mesa, sempre no clima do mais alto astral, como as atitudes imprevisíveis do Chico da Bota. Ah! pode perguntar aos leitores mais desavisados, e os nomes dessas pessoas, por que não aparecem nesta crônica? Porque fazem parte da história do Alquimia Bar, e isto é apenas um selfie. Essas pessoas queridas sabem que estão aqui, no sentimento deste texto.
Ao lado dessas realizações, o Alquimia tem o seu folclore, as fantasias e as maledicências que correm ao seu respeito. E a cozinha do bar, heim? Quantas histórias escabrosas, sórdidas, românticas, fantasiosas, delirantes ou qualquer outro adjetivo já não foram contadas oralmente nesta cidade? Você, caro(a) alquímico(a), com certeza já ouviu várias. Diante de qualquer ilusão colocada em questionamento, parafraseando Charles Baudelaire, só nos resta dizer que tomamos a sopa do Alquimia e seremos sempre mercadores de nuvens...
*Rubens Shirassu Júnior é escritor