*Rubens Shirassu Júnior
Em 24/03/2017 às 19:41
Não se pode discutir um sentido histórico da literatura de Presidente Prudente, porque não há este sentido. Nossas atitudes são a-históricas. O quê se tem que discutir é a urgência de se fundar um tempo histórico entre nós.
Quando uma cidade que se intitula “capital da alta sorocabana” não tem um Plano Municipal de Cultura (PMC), qual o efeito real disso às gerações atual e futura, à economia, ao turismo e à identidade, diante do peso maior de outras carências. Isto, se olhar a cultura como um produto que muda constantemente e, exige sincronia com as tendências de mercado e das novas tecnologias digitais do século 21.
Pela falta de tradição cultural decorrente do fator marcante em privilegiar o que é lançado em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, seria, o “top” de qualidade e novidade, a formação da população, amparada por uma cultura agropecuária, religiosa do medo e da culpa, além de influenciada também pelo mau costume da dependência/centralização nas decisões dos órgãos culturais e gestores do município e do Estado, formou-se um conceito centralizador de serem os principais polos divulgadores da cultura.
Muito semelhante ao regime ditatorial stalinista, na União Soviética bolchevista da década de 1920, onde o Estado ditava as regras privilegiando os apologistas seguidores do regime e seus artistas populistas que possuíam uma linguagem mais coloquial, que acreditavam satisfazer a massa.
Portanto, os escritores e artistas em geral não se isolaram do meio social, o que falta estabelecer é uma espécie de ponte, um intermediador, no caso um agente cultural, que proporcione o diálogo aberto visando o benefício do artista e da empresa patrocinadora.
Um profissional especializado em marketing cultural que tenha o poder da persuasão, a sociabilidade, a segurança que os empresários e os artistas confiem investindo em seu trabalho. E que tenha também livre acesso aos meios de comunicação para semear a valorização do meio artístico de Presidente Prudente, que possui grandes nomes seja na literatura, na dança, na pintura ou na música, pois propagam a cultura diferenciada pela alta qualidade e divulgam uma imagem positiva e saudável da localidade, entre outras paragens.
Acredito ser preciso privatizar, planejar, estruturar e profissionalizar ao máximo, as atividades culturais, limitando-se as ações do município e do Estado, enquanto produtor, e privilegiando a sua ação nas áreas de infraestrutura, entendendo como privatização a ação das pessoas jurídicas de direito privado, através da criação de sistemas, mais precisamente projetos culturais e, sem esquecer de franquias, posteriormente, para execução de programas culturais em nível particular.
De outra parte, fomos educados apenas com a preocupação de subsistência em produzir e esquecemos de nos posicionar como empresários, conforme mostram os fatos no começo do incentivo para a abertura de microempresas, entre os anos 80 e 90, recordam?
Em seguida, temos que fornecer um bom produto para que vire assunto de pauta para o jornalismo cultural que engatinha os primeiros passos, após o advento da faculdade de comunicação e publicidade na cidade. Com a chegada da tecnologia digital e gráfica trazendo novidades, os escritores foram colocados num grande impasse: incorporar todo tipo de mídia para assumir como empresa que depende da venda de seu produto, além da sustentação da imagem. E, fica a dúvida permanente: como fazer o produto transformar-se em marca ou onde encontrar um agente cultural?
Assim, na condição de um dos redatores do Plano Municipal de Cultura (PMC), dentro do mesmo urge a organização de um banco de dados que tenha a supervisão de uma banca formada por profundos conhecedores da história da arte em geral, da análise crítica e da classificação dos artistas: por exemplo, desde iniciantes, podemos classificar como os que não obtiveram ainda prêmios de nível estadual ou federal, os amadores, que seriam os pintores copistas, aqueles que produzem paisagem morta através de ampliação de quadros de pintores desconhecidos.
Incluir também os intermediários, que criam suas pinturas, porém, ainda estão no estágio de conhecimento de técnicas e, finalmente, os artistas profissionais, que obtiveram prêmios de níveis estadual e federal, com um certo volume de publicação de livros, ebooks, de exposições, de lançamentos ou de intervenções, etc.
Produtores culturais e assistentes, com certa frequência, vêm ressaltando, como principal fator, da fragilidade, as faltas de informação, a descapitalização da maioria dos artistas, de estratégia e marketing cultural, ao lado de profissionais específicos que façam a intermediação da venda do projeto junto ao empresariado local, regional e nacional, amparados pelas leis de incentivo, que beneficiam as empresas no Imposto de Renda (IR).
Infelizmente, poucos têm o privilégio de desfrutar desta ação, apenas os grandes astros e estrelas do teatro, da televisão e cinema do Brasil, são contemplados pelas leis de incentivo fiscal, como a conhecida e polêmica Lei Rouanet.
Problemas, que exigem o aprimoramento do argumento pelo profissional experiente e junto à mudança de atitude da classe artística, destaca o estigma de que arte com qualidade, por ser elitista, torna-se restrita, não obtém boa aceitação pelo público em geral. Ledo engano.
O nicho de mercado exige um projeto específico atrativo, inteligente e que satisfaça os interesses desta classe minoritária e exigente, citando a figura do diretor de marketing das médias e grandes empresas locais e nacionais. Vivemos uma época que qualquer produto no mercado é dirigido, existe público-alvo, certo?
São aspectos básicos, parecem-me requerer um estudo maior do campo, uma pesquisa e elaboração de banco de dados classificando, através de júri designado pelas câmaras setoriais, de uma parceria com profissionais na área de Estatística, do campus local.
Dependendo de verba disponível até contratar uma empresa séria de consultoria. De qualquer forma, através de projeto bem elaborado, da estratégia, da divulgação e, o mesmo amoldado às condições do mercado, poderemos um dia ver sistematizada e estruturada a cultura literária, um esforço no sentido de manter a face de identidade da cidade.
A questão é bastante séria e a perda de identidade, junto ao perfil vazio e fragmentário, envolvem tanta complexidade que a melhor saída seria assumir uma visão sensata e administrativa de ação pobre, perdida, sem conteúdo, sem impacto de nosso produto (livro ou peça artística).
Uma ação que atende apenas ao cronograma de atividades amoldadas a uma forma desgastada, para encobrir a grande fenda arremessada, aliada a algumas ações esparsas que morrem por falta de continuidade, acompanhamento e plano de marketing.
Não há outra prioridade, nem segunda alternativa. Ou assim agimos, com postura ideológica, fé, seriedade, profissionalismo, comprometimento ou deveremos colocar uma placa de bronze em nossa caixa imaginária, alertando aos incautos dentro da “zona fantasma”: “Aqui, jaz, por não mudar o enfoque sobre a cultura e não ter iniciativa, meros mercadores ególatras, narcisistas, recalcados e de nuvens”.
*Rubens Shirassu Júnior é escritor