*Rubens Shirassu Júnior é escritor
Em 13/02/2016 às 20:09
(Foto: Ilustração)
Não se pode discutir um sentido histórico da literatura prudentina, porque não há este sentido. Nossas atitudes são a-históricas. O quê se tem que discutir é a urgência de se fundar um tempo histórico entre nós.
Pela falta de tradição cultural decorrente do fator marcante em privilegiar o comércio desde a formação de Presidente Prudente e região, amparado por uma monocultura, influenciado também pelo mau costume da dependência/centralização nas decisões dos órgãos culturais do município e Estado, formou-se um conceito de principais polos divulgadores da cultura.
Portanto, os produtores culturais não se isolaram do meio social, o que falta estabelecer é uma espécie de ponte, um intermediador, no caso um agente cultural, que proporcione o diálogo aberto visando o benefício do artista e da empresa patrocinadora.
Acredito ser preciso privatizar, ao máximo, as atividades culturais, limitando-se a ação do Estado, enquanto produtor, e privilegiando a sua ação nas áreas de infraestrutura, entendendo como privatização a ação das pessoas jurídicas de direito privado, através da criação de sistemas de franquia para execução de programas culturais em nível particular.
De outra parte, fomos educados apenas com a preocupação de subsistência em produzir e esquecemos de nos posicionar como empresa, conforme mostram os fatos no começo do incentivo para a abertura de microempresas, entre os anos 80 e 90, recorda?
Em seguida, temos que fornecer um bom produto para que vire assunto de pauta para o jornalismo cultural que engatinha os primeiros passos, após o advento da faculdade de comunicação na cidade. Com a chegada da tecnologia digital e gráfica trazendo novidades, os escritores foram colocados num grande impasse: incorporar todo tipo de mídia para assumir como empresa que depende da venda de seu produto. E, fica a dúvida permanente: como fazer o produto transformar-se em marca ou onde encontrar um agente cultural?
Produtores culturais e simpatizantes, com certa frequência, vêm ressaltando, como principal fator, da fragilidade, a descapitalização da maioria dos artistas, falta de representação sindical, estratégia e marketing cultural, ao lado de profissionais específicos que façam a intermediação da venda do projeto junto ao empresariado local, regional e nacional, amparados pelas leis de incentivo, a exemplo da Rouanet, que beneficia as empresas no Imposto de Renda.
Infelizmente, poucos têm o privilégio de desfrutar, apenas os astros e estrelas do teatro, da televisão e cinema do Brasil. Problemas, que exigem o aprimoramento do argumento por profissional experiente, destacam o estigma de que arte com qualidade, por ser elitista, torna-se restrita, não obtém boa aceitação pelo público em geral. Vivemos uma época que qualquer produto no mercado é dirigido, existe público-alvo, certo?
São aspectos básicos, parecem-me requerer um estudo maior do campo. De qualquer forma, através de projeto bem elaborado, estratégia, divulgação e, amoldado às condições do mercado, poderemos um dia ver sistematizada e estruturada a cultura literária, um esforço no sentido de manter a identidade da cidade e da região.
A questão é bastante séria e a perda de identidade, junto ao perfil vazio e fragmentário, envolvem tanta complexidade que a melhor saída seria assumir uma visão sensata e empresarial de nosso produto (livro ou peça artística).
Não há outra prioridade, nem segunda alternativa. Ou assim agimos, ou deveremos colocar uma placa de bronze em nossa porta imaginária, alertando aos incautos dentro da “zona fantasma”: “Aqui, jaz, por não mudar o enfoque sobre a vida e não ter iniciativa, um mercador de nuvens”.
*Rubens Shirassu Júnior é escritor