*João Bosco Leal
Em 23/05/2014 às 15:41
(Foto: Arquivo)
Todos têm a oportunidade de crescer aprendendo com seus próprios erros, mas isso pode ser facilitado quando temos a humildade de ouvir os mais velhos e experientes, pois o aprendizado sempre foi doloroso, repleto tropeços e quedas, mas aprender com os erros de outros nos dá a oportunidade de atravessar obstáculos sem neles tropeçar.
A música "Father and Son", de Cat Stevens, hoje Yusuf Islam, um grande sucesso de minha juventude, resume claramente a dificuldade de diálogo entre as gerações e como, para um pai, é difícil ver os caminhos errados tomados pelo filho que não o ouve.
Por mais que os pais errem na educação de seus filhos, certamente pensavam estar certos ou não teriam agido daquela forma, pois o amor pelos mesmos vem de antes mesmo de nascerem e a eles só desejam o melhor, em todas as áreas.
Há poucos dias um amigo dentista me contava como é comum atender pacientes cujos pais nunca mandavam tratar dos dentes de seus filhos e sim mandavam extraí-los quando surgia algum problema com um deles. É um comportamento inimaginável nos dias atuais, mas aqueles pais de quarenta anos atrás pensavam que, com aquela atitude, seus filhos nunca mais teriam problemas com o dente extraído e que no futuro, quando já não restasse mais nenhum, colocariam uma "dentadura" e teriam o sorriso bonito e sem a possibilidade de novos problemas.
Aquele profissional comentou também que isso atualmente ainda é muito comum no interior do país e que pessoas ainda muito jovens quase já não possuem dentes em decorrência desta cultura existente na mente de muitos pais. Com seu relato, passei a imaginar o trauma vivido por jovens que já quase não possuem dentes e que necessitam retirar os últimos que ainda possuem para iniciar um tratamento que hoje se daria com enxertos ósseos e implantes, para posterior aplicação de uma dentadura fixa.
Entretanto, mesmo em casos radicais como estes, que muitas vezes são verdadeiras mutilações, certamente estes pais só tiveram este comportamento por ignorância, mas jamais por desejarem mal a um filho, pois desconheço um pai que, mesmo ignorante, não ame seus filhos e por eles não dariam a própria vida.
Muitos pais ensinam seus filhos a lutar por tudo o que almejam galgar na vida profissional, emotiva ou financeira, contra injustiças, a respeitar os mais velhos e até sugerem profissões que sabem ser mais lucrativas, proporcionam escolas que os tornariam altamente capazes, mas anos depois, no futuro, se deparam com filhos desanimados, que não lutam pelo que desejam; escolheram profissões que pouco lhes remunera ou que não se dão bem em profissão alguma; incapazes, financeiramente acomodados, emocionalmente infelizes ou, pior, desejando até a morte dos pais para, com isso, herdar o que estes ou seus antepassados construíram.
William Shakespeare já dizia: "Em certos momentos, os homens são donos dos seus próprios destinos" e, paras os pais, é muito difícil não ser ouvido pelos filhos e perceber que sofrem mais do que o necessário por aprenderem com os próprios erros, quando se ouvissem, pelo menos em alguns pontos poderiam ter aprendido com os erros já vividos por outros.
Apesar dessa dificuldade de comunicação ser comum há diversas gerações - com os filhos sempre achando que sabem mais que os pais -, sempre podemos encontrar jovens que se sobressaem, que erram menos e, observando seu comportamento, é fácil perceber que grande parte de seu sucesso se deve à sua humildade de respeitar e sempre ouvir os mais velhos.
Pena que muitos só consigam enxergar esta realidade quando os pais já se foram, ou já são velhos demais para ensinar algo que os transformaria em pessoas melhores, mais capazes e menos sofridas, quando alguns, que talvez dessem mais valor aos seus, não tiveram a felicidade de sequer ouvir a voz do pai.
Falta humildade a quem, ciente do cometimento dos mesmos por seus próprios pais ou por terceiros, aprende somente com os próprios erros.
*João Bosco Leal é jornalista, escritor e empresário