Rubens Shirassu Jr.(*)
Em 06/04/2011 às 11:53
(Foto: Rubens Shirassu)
“Pra
que cara feia?/ na vida,/ ninguém paga meia.” Começo o nosso bate-papo
parafraseando o hai-kai simples e filosófico do Paulo Leminski, pensando com os
meus tostões. Em certos momentos, você sente vontade de fazer um levantamento
do que gastou até os dias de hoje. E
você, já pensou em fazer uma lista? Nunca pensou nisso? Pare para pensar e
diminua o ritmo de tarefas no dia-a-dia e leia essa numérica crônica, ou
prestação de contas, a quem?
Antes
de você nascer, lá no laboratório de análises, seus pais começam a pagar para
comprovar a sua existência. É a primeira despesa de seus pais na sua vida.
Depois, no hospital, seus pais pagam antecipado, pois o plano particular de
saúde cobre apenas 50% das despesas, para garantir um quarto, o parto e o bom
atendimento adequado, a luz, a água, o primeiro banho em altas doses de uma
conta bem maior. Sem falar no número de fraldas, a decoração do quarto, o
primeiro berço. Apenas o cartório te oferece um número de registro. Mas esses,
de uns tempos para cá, não contam.
Na
escola, você tem que comprar o material da lista, pesquisar os preços, paga a
camiseta da escola, a calça e a bolsa personalizada. Acrescenta a excursão de
férias em julho, entre outras atividades que você deduz no fundo de pensão de
investimento a longo prazo. Você não pode esquecer da van que busca e entrega a(s)
criança(s) na porta de casa. Do tênis e da camisa do time favorito, e dá-lhe
mais uma marca na agenda.
No
cursinho pré-vestibular, você tem que pagar se não eles não estudam em casa.
Depois,
vem a vez de tirar o RG e o CIC. Outros números a acrescentar nas despesas. E
com dever de pagar uma meia dúzia de fotos, ainda por cima.
Vem
o pedido para tirar as carteiras de motorista e moto. Lá em cima,
indefectíveis, outros números para gente martelar.
Mas,
a coisa não para por aí. Entra na empolgação da Internet e você tem que
arranjar e conhecer números e siglas nunca dantes imaginados. Precisa saber
diferenciar um “mac”, um “apple”, pelo inglês que você apenas arranha, sabe que
tem maçã no nome de um “PC” de 4 gigabytes de memória, que leva um “HD” de 500.
Jamais poderia imaginar que, para trabalhar, teria que memorizar códigos,
siglas, números. Às vezes, sinto-me apenas um número e tantos dígitos.
Continuo
pensando em meus números, com os meus botões. E você, quantos números você é?
Nunca pensou nisso? Pare para pensar ou
então vamos refletir sobre os cálculos.
Mais
um para o celular modelo última geração. E tem que separar e reservar uma certa
quantia para os imprevistos, a exemplo de um braço ou perna fraturado, outra para
os aniversários, excursões, churrascos beneficentes. Sem falar nas compras de
roupas, calçados, acessórios, conforme a estação e as tendências da moda.
E
você tem que somar muito bem as suas despesas de investidor com mais um número.
Para não ir além dos limites do cheque e do cartão de crédito.
Se
quiser fugir do país de tantos números, precisa de mais um: o do seu passaporte,
da mulher, dos filhos e do travel check como garantia de entrada em outro país.
Mas não se esqueça antes de fazer um seguro funeral, para garantir que a terra
lhe será leve e, você poder descansar em paz.
A
única certeza que você tem e, não pode correr ou prorrogar o dia fatal de sua
morte, porque a sentença foi protocolada e assinada em duas vias, da ida e da volta.
Assim, você, meu leitor e minha leitora, encerrará um dia o seu débito com o
banco da agência da providência e, não previdência, divina. Sei que você dirá
perplexo: - Nossa que crônica numérica fúnebre, parece um urubu de luto na
porta da previdência!
(*) Rubens Shirassu Jr. é designer gráfico e escritor