Segunda-feira 1 de maio de 2018 | Presidente Prudente/SP

A religião e o processo eleitoral

Eliseu Visconti*

Em 26/11/2010 às 09:06

Penso não existirem mais dúvidas quanto à santidade dos processos eleitorais: eles não são pios e nem confiáveis. S. Gregório I, Papa entre 590 e 604, compilou os sete Pecados Capitais, aqueles que a Igreja tipifica como passíveis de condenação.

Defendo que todo protagonista de um processo eleitoral de qualquer ordem – campanha para presidente da república, governador, senador, deputado, vereador, presidente de Mesa, de partido político e até mesmo síndico, incorre em todos, ou na maioria, dos pecados capitais, sujeitando-se destarte, aos desfavores, perante o Criador.

Sobrevoemos pecadores e eleitores, olhemos sobre as suas cabeças, espreitemos os sete pecados capitais, e coloquemos as carapuças onde elas couberem ou forem solicitadas: 1º pecado, Soberba. Definida como arrogância, ou presunção, a soberba açoita os que se julgam vencedores por antecipação, melhores do que os adversários e por isso não precisam de ninguém. Não raro, caem de focinho ao chão.

Segundo pecado, Avareza. Esse segundo pecado liga-se, com frequência, ao primeiro, pois ao se julgar o rei da cocada preta, o “criminoso” não quer mais falar, pagar um chopinho ou financiar um santinho.

Terceiro pecado, Luxúria: os dicionários descrevem-na como desregramento, excesso sexual. A grande verdade é que num processo eleitoral, florescem as oportunidades de conseguir favores presentes ou futuros, o que favorece as eventuais reuniões, secretas ou não, em locais suspeitos ou não, geralmente providos de camas.

Passamos ao 4º pecado, que é a Ira. Pessoalmente, considero a ira como a quintessência da ignorância. Seus praticantes, que tendem ao inferno, à prisão ou depressão, alimentam-se do ódio que mantêm aos adversários, esporte esse que os atoleima. O irado costuma se comportar como um cidadão que bebe veneno e espera que o adversário é quem morra envenenado. Resumo da ópera: ignorante.

Quinto pecado, Gula. A compulsão por uma cervejada, por um churrasco, uma buchada, ou semelhante, emporcalha um processo eleitoral. Entendo um regabofe eleitoral como uma forma de corrupção, que enche as tripas, mas não corresponde necessariamente a um voto per capita. Gastar uma nota firme na presunção de comprar votos será um dos assuntos a abordar no Juízo Final, perante o Supremo Juiz do Tribunal Celestial Eleitoral.

Sexto e penúltimo pecado capital, Inveja. Eleitor é bicho pernicioso. Todos eles querem uma “viração,” para quando seus candidatos forem eleitos. Uns conformam-se em ocupar uma simples assessoria – desde que bem remunerada, é claro, ou um cargo mais polpudo, se a ambição subir. Trabalham para seus candidatos, visando ao sucesso futuro. Existem, porém, aqueles que não almejam somente uma posição vantajosa, mas fixam o olhar nos cargos de terceiros, sejam eles desafetos ou não. Quase que sempre incompetentes, sentem-se em condições e trabalham para derrubar o seu alvo, sem imaginar que, se ele ali está é por ter algum ou muito mérito. Conheci uma pessoa que comprou uma Mercedes Benz e afixou no parabrisa um plástico dizendo “A inveja é uma merda.” E é isso mesmo.

Chegamos, finalmente, ao fim deste rosário de pecados, para refletir sobre o 7º deles, a Preguiça. O preguiçoso comporta-se, com uma certa frequência, tal qual um inválido ou deficiente: não quer enxergar o fim do processo eleitoral, ouvir sobre defeitos ou qualidades do candidato e nem se arrisca a meter os pés nas ruas, ou comparecer a reuniões, por simples indolência mental. Esses caras serão certamente castigados.

Aí estão os pecados que envolvem, assaltam e atazanam os protagonistas de um processo eleitoral. Roga-se aos leitores e eleitores que estiverem prestigiando o desenvolver deste raciocínio, que reflitam, arrependam-se, se assim o comandar as suas consciências, mas que não façam propósito de não recalcitrar. O ser humano é falho e imperfeito, e além disso, passível do perdão, previsto na incomensurável misericórdia divina:

Misereatur vestri omnipotens Deus, et dimissis peccatis vestris, perducat vos ad vitam æternam

(Que Deus todo poderoso tenha misericórdia de vós, e perdoe os seus pecados pela vida eterna.)

*Eliseu Visconti é jornalista, escritor e assessor de imprensa da Câmara de Presidente Prudente

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