Rubens Shirassu Jr.*
Em 29/11/2010 às 08:41
Depois de fechar o jornal em que trabalhava e tomar algumas saideiras em seu botequim de fé, o jornalista Marinus Castro foi para casa, um apartamento de quinto andar, fundos, no Leme e, ao abrir a porta, deparou-se, em plena sala, com um cavalo branco, não engarrafado, mas quadrúpede mesmo, que já havia destruído metade dos móveis.
Depois de lavar o rosto e se certificar de que não era uma visão, Marinus, apavorado, voltou ao botequim berrando: “Pessoal, tem um cavalo lá em casa!” O português dono do botequim, conhecendo bem a freguesia, voltou-se candidamente para o jornalista: “Ô, Marinus, toma mais uma e deixa-te de besteiras!” E ele virou diversas, tentando exorcizar a assombração equestre. Encorajado pelo reforço etílico, voltou para casa, e encontrou o cavalo que já lhe tinha inundado a sala com uma cavalar mijada. Desesperado, ligou a um amigo do jornal pedindo socorro. Acordado no meio da noite, o amigo, com um humor de cascavel menstruada, foi logo dizendo: “Para de beber, cara. Já te falei que neste ritmo ias acabar mal!” E desligou. Sem mais nada a fazer, Marinus foi dormir.
Na manhã seguinte, a bordo de uma avassaladora ressaca, mal conseguindo abrir os olhos, pensou, com alívio, que tudo não passou de um pesadelo. Ao chegar à sala, entretanto, deparou com o cavalo, a essa altura do campeonato tão desconcertado quanto ele. Sem ter a quem apelar, Marinus chamou a polícia e os bombeiros. Chegaram todos juntos e constataram que o cavalo existia, era de carne e osso, e não tinha fugido de qualquer delirium tremens: caiu no apartamento direto do morro do Chapéu Mangueira, arrastado pelas chuvas que levaram o barranco em que pastava filosoficamente. Por via das dúvidas, Marinus Castro ficou uma semana sem beber.
*Rubens Shirassu Jr. é designer gráfico e escritor
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