Segunda-feira 1 de maio de 2018 | Presidente Prudente/SP

'Redemocratização' da Cultura: tem que ir onde o povo está, diz secretário

"Quem vence na hierarquia é a melhor ideia", afirma Yuri Reis

ROGÉRIO MATIVE

Em 17/07/2023 às 15:23

Diversos eventos são realizados no Matarazzo como uma forma de convidar a população a conhecer o espaço, segundo o secretário

(Foto: Arquivo/Secult)

Semear, plantar, cultivar. Sinônimos comuns no processo de trabalhar a terra, mas que também são empregados no fomento da arte, da música e de diversos segmentos culturais. É nesta ação de germinar ideias e novos projetos que a cultura de Presidente Prudente passa por um processo de 'redemocratização', segundo o secretário municipal Yuri Reis. Em sua lista de mais de 200 eventos realizados em dois anos e meio, ele cita algo imprescindível neste processo: ouvir as pessoas.

"O maior desafio no começo era entender todas as pessoas que, ao longo dos anos, foram deixadas de lado e que tinham vontade de ter voz cultural na cidade. Então, nós fizemos um trabalho muito grande de ouvir, principalmente porque as pessoas, às vezes, esquecem um pouquinho do que aconteceu no passado", diz, em entrevista ao Portal.

Sem poder realizar atividades culturais durante o segundo pico da pandemia, Reis revela que utilizou o tempo para 'reconectar' os laços e, assim, tornar a Secult 'mais humanizada'. "Nós passamos por mais de seis meses de uma pandemia ferrenha, uma pandemia que nós ficamos praticamente parados. Então, tivemos esse tempo para entender a cultura, para conhecer e para, principalmente, torná-la mais humanizada, uma palavra que a gente sempre usa aqui", frisa.  

"Eu sou professor [gestão de Eventos da Fatec], então é muito importante a gente escutar as pessoas, entender o que elas precisam e ir ao encontro disso. É tratar as pessoas de uma forma que elas se sintam especiais e que a gente consiga ajudar elas de fato. Talvez, pode ser não da forma que elas mereçam e desejam, mas a forma que a gente consegue; a gente faz o máximo possível, pois a humanização é um processo de você olhar para as pessoas e saber que ali não é um número, ali não é um funcionário, não é um colaborador, ali tem um ser humano, que tem desejos, que tem perspectivas, expectativas, e a gente tenta alcançar esses objetivos".  

Segundo Yuri Reis, processo de democratização da cultura começou abrindo as portas para os coletivos | Foto: Arquivo/Secult

Descentralizar decisões 

Por vários anos, coletivos e associações da cidade travaram uma briga para que tivessem espaço no cenário cultural. De acordo com o secretário, um dos desafios é aprimorar o elo com este setor.

"Em relação aos coletivos, gostaria de fazer muito mais. Mas, o cenário já é completamente diferente daquilo que eu peguei no primeiro mês de gestão. Só os editais específicos, eu ouvi de várias pessoas da área cultural que a gente paga muito bem. Que bom, que isso vire um exemplo e que eleve o nível, assim como é o Sesc. Nós queremos alcançar esse nível do Sesc e de outras cidades que valorizam de fato os artistas [locais]. Então, a abertura das portas é um processo de democratização. Vamos atender, vamos tentar fazer o máximo, às vezes eu não consigo, mas o máximo que a gente puder, será feito", pontua.

Não posso querer fazer evento que eu não tenha perna, deixando outros segmentos em detrimento, diz secretário | Foto: Rogério Mative/Portal

Dentro deste cenário, Reis entende que é necessário descentralizar decisões e 'ouvir mais' ao rasgar elogios à sua equipe e, em especial, a três nomes:  Valentina Romeiro, diretora do Museu e Arquivo Histórico Municipal - responsável pela modernização do local, que será reaberto em setembro; Denílson Biguete, professor e produtor cultural; e do coordenador cultural, Alysson Vinícius.

"Sim, esse processo de redemocratização significa voltar a ouvir as pessoas, dar voz às pessoas, ser participativo. Nós temos funcionários maravilhosos, pessoas que entregam muito. As decisões são participativas entre os funcionários, entre o Conselho Municipal de Cultura, que representa os artistas, e alcançou um nível que não tinha antes, alcançou um nível muito satisfatório. Quem vence na hierarquia é a melhor ideia, às vezes, uma pessoa tem uma ideia maravilhosa. Então, tirar o ego, tirar a vaidade, tirar essa centralização, tudo isso foi um processo que a gente tem feito e é constante", comenta.

Ao citar sucesso alcançado em eventos como "Uma Noite no Museu", "Feira do Rock" e "Vila Natal", Reis afirma que a atual política da Pasta é disseminar a cultura com eventos de menor porte espalhados por toda a cidade. "Utilizando menos [recursos], fazendo menos eventos gigantescos e faraônicos para poucas pessoas, fazendo mais eventos baratos e acessíveis, sendo gratuitos para a população, em maior quantidade e nos bairros. [Em breve], vamos conseguir fazer alguns cinemas descentralizados na periferia, vamos criar salas de cinema para poucas pessoas, para quinze e vinte pessoas. As famílias vão poder acessar essas salas mensalmente, com filmes que elas não teriam acesso pela distância e entre outros fatores. No segundo semestre desse ano, vamos ter mais de 200 atividades, juntando o nosso edital municipal e a Lei Federal Paulo Gustavo".

"Democratizar o acesso, ouvir o que as pessoas querem, tentar manter o que era bom e melhorar, adequar as finanças locais. Não posso querer fazer evento que eu não tenha perna, deixando outros segmentos em detrimento", enfatiza o secretário.

De acordo com ele, Prudente contará com um segundo museu nos próximos meses. "Será na estação ferroviária, que eu comecei agora há pouco tempo junto com a equipe a melhorar ela. A reforma vai demorar um pouco porque [o prédio] estava completamente abandonado. Mas até o final do ano que vem, a estação vai virar museu. Vai ter dois museus lá dentro e mais algumas coisinhas", revela.

"Eu não posso ir ao museu uma vez na vida, na infância junto com o colégio. Eu tenho que ir sempre, porque aquilo me leva para outro local, aquilo me transforma em uma outra pessoa, em uma pessoa que é mais reflexiva, que tem mais consciência dela mesma e do mundo onde ela pode atuar e alterar aquele mundo no qual ela está", fala.

Ainda não está bom

Apesar de comemorar as mudanças na condução da cultura prudentina, o secretário diz que o cenário atual ainda não é o ideal, com necessidade de mais recursos para a implantação de novos projetos.  

"Hoje, o cenário que a gente vê não é o ideal, muito longe disso. Tem muita coisa por fazer ainda; mudamos muito, mas a gente quer alcançar mais pessoas. A gente precisa de mais recursos, a gente precisa de mais emendas de deputados, a gente precisa de mais força, pois a criatividade tem um limite. A criatividade e boa vontade são as forças mais fortes que eu vejo na gestão", finaliza.

Ouça a entrevista completa clicando no play logo abaixo

 

 

 

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