*João Bosco Leal
Em 11/04/2014 às 08:15
Durante nossas vidas, conhecemos ou mesmo já nascemos próximas de algumas pessoas diferentes da grande maioria. São pessoas que, ao que parece, vivem outra vida, diferente da dos outros, onde acontece ou deixa de acontecer tudo de forma absolutamente diversa do que ocorre com a maioria das outras pessoas.
São pessoas que vivem da imaginação, normalmente bastante distante da realidade, onde tudo é possível, nada é difícil e tudo se resolve da maneira mais fácil, desde que, claro, tudo ocorra de acordo com o que elas esperam ser a solução para quaisquer dos mais diferentes acontecimentos da vida.
Quando imaginam algo, mesmo sendo algo que levará anos para ser construído, já começam a falar sobre a obra pronta e de como ficou bonita aquela planta no jardim antes de o primeiro tijolo ser assentado. Apontam detalhes do seu imaginário como se pudessem tocá-lo naquele momento de sua narrativa.
Por parecer não serem afetadas por nada do que para os outros é real, são pessoas carismáticas, muito simpáticas, sorridentes, leves, e nada do que incomoda, irrita ou enerva as outras pessoas parece atingi-las. Acreditam em tantas facilidades que acabam deixando de cumprir, na vida real, detalhes que para os outros são de fundamental importância, como as contas do dia a dia, desde água, luz, telefone, IPVA e IPTU, até as obrigações perante o fisco. Imaginam que, se forem cobradas, sempre poderão fazer um acordo e pagar menos ou em melhores condições.
Passam sua vida esperando por algo como anistias de multas e juros para aí sim negociar um pagamento de longo prazo e, mesmo assim, costumam não cumpri-lo. Imaginam que, com o passar do tempo, dívidas como as federais, mesmo quando acionadas na Justiça, se forem proteladas através de artifícios jurídicos, prescreverão, o que, sabemos todos, nem sempre ocorre.
Acabam, com isso, se complicando contábil ou juridicamente, sendo desacreditadas moralmente, tendo situações constrangedoras - como a de ser cobrado ou notificado por oficiais de justiça diante da esposa ou filhos - e nem assim parecem se incomodar ou buscar mudanças, pois continuam acreditando que tudo se resolverá facilmente.
Os problemas começam a se avolumar cada vez mais, de modo a se tornarem insolúveis e elas acabam sendo obrigadas a viver sem nada em seu nome, sem crédito, contas correntes, cartões de crédito e tudo o que é bastante comum para todos os que as cercam, mas que vivem a realidade.
Nesse ponto, começa a ocorrer algo ainda mais triste, pois sempre fugindo da realidade, colocam bens e fazem compras em nome de outras pessoas, desde pequenos objetos a imóveis, e normalmente não cumprem também com a responsabilidade sobre aqueles bens, prejudicando agora aqueles que, pensando ajudar, permitiram que algo de terceiros fosse colocado em seu nome.
E o sonhador inicia agora um novo ciclo, onde começará a dar, para os seus normalmente muito próximos, o prejuízo financeiro, moral e ético que, em seu nome, já foi totalmente consumado, machucando, assim, pessoas como filhos, esposas, irmãos e mães.
Entretanto, quando é ele o credor, fica horrorizado quando alguém não o paga no exato vencimento da dívida, falando mal e xingando este seu devedor, esquecendo-se completamente, no entanto, de que é exatamente aquele o seu comportamento, e que, com ele, está destruindo vidas e sonhos reais daqueles a quem prejudicou.
Os irresponsáveis não aceitam quando a irresponsabilidade de outros os atinge.
*João Bosco Leal é jornalista e empresário