Segunda-feira 1 de maio de 2018 | Presidente Prudente/SP

Numa Estação do Metrô

Rubens Shirassu Jr.*

Em 07/09/2012 às 12:30

Muitos rostos, muitos nomes, gritos, cachos de lágrimas, crianças recortadas, homens, mulheres, olhares risotas, maçãs coradas, papel cortado, pequenas, quase formigas descendo a escadaria, primeiro um ponto borrado, depois as formas, braços, pernas, circulam no pátio, correm, confundem-se para de novo formar a fila cada vez mais nítida se aproximando de uma esquina dobrada à esquerda, subindo a rua, descendo a rua, subindo a rua, descendo a esteira, no alto do poste formigas, cabeças recortadas nas arestas das janelas, mãos abertas puxam mãos abertas, do teto retangular elas deslizam com agressividade, olhos abertos de lentes negras sem ânsia, nenhum lamento, nenhum grito, às centenas, como podem caber todas neste cubículo, mãos nervosas umas nas outras, a princípio com vagar, a seguir velozes e depois com brio, desespero, esfregam os braços uns nos outros, pernas umas nas outras.

Ausência de vento e calor. Falta de nuvens. Pétalas em negro, úmidos galhos, arrancá-las e mastigar a agonia da paisagem.

(*) Rubens Shirassu Jr. é designer gráfico e escritor
Sufocado, sente que pode pegar o medo flutuante, desabrochá-lo com força enquanto caminha pelo corredor de cimento cinza.

A mão direita ergue-se rumo ao peito, desvia a gravata e separa as partes da camisa, agarrando a medalha oval com um facho de luz amarela e lanças incrustadas ou fundidas com toda a peça: no centro há um girassol enlouquecendo no concreto.

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