Da Redação
Em 08/10/2018 às 15:53
Pediatras devem prescrever brincadeiras para crianças pequenas, recomenda a Academia Americana de Pediatria
(Foto: Arquivo)
Você lembra da sua própria infância? Você brincava de quê? Brincava na rua? Brincava com quem? Quais as suas brincadeiras favoritas? Continuando a série de perguntas: será que nossa cultura atual é menos amigável à natureza infantil? Será que hoje as crianças têm menos chances de brincar?
Para tentar responder a tantas pergunta de pais e mães, a Academia Americana de Pediatria divulgou um documento oficial, em agosto, deste ano, intitulado "O poder da brincadeira: o papel pediátrico do lúdico no desenvolvimento das crianças pequenas".
O documento caracteriza a brincadeira como intrinsecamente motivadora, envolvendo engajamento ativo e resultando em “descobertas alegres” na infância, reúne pesquisas de desenvolvimento e neurológicas extensivas sobre brincadeiras e tenta extrair algumas das descobertas específicas de desenvolvimento dos jogos repetitivos que fornecem “a alegria de poder prever o que vai acontecer”, além do controle dos impulsos.
A recomendação é que os pediatras encorajem o aprendizado lúdico de pais e bebês. A "prescrição para brincar" deve ser feita, em todas as consultas de crianças saudáveis, nos dois primeiros anos de vida.
“O documento é uma verdadeira declaração de valores porque muitos dos especialistas que estudam a importância do brincar sentem-se sitiados, mesmo quando novas pesquisas enfatizam sua importância no desenvolvimento infantil. Brincar está sendo visto como algo irrelevante e antiquado, hoje”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski.
Vivemos em um clima onde os pais sentem que precisam programar cada minuto do tempo de seus filhos. “Brincar é um dos jeitos que elas aprendem e o modo como elas se desenvolvem. É importante entender como todos nós, pediatras, e especialmente os pais, podemos encorajar a brincadeira”, observa Chencinski.
De acordo com a declaração americana, as crianças desenvolvem as habilidades necessárias para viver no século 21 por meio das brincadeiras. São habilidades sociais e emocionais, que os ajudam a colaborar e inovar, que são cruciais para o mundo do trabalho na nova economia global.
O que os pais precisam fazer?
Dar aos pais um reforço positivo para o que eles já estão fazendo é o que mais ajuda, não os criticando pelo que eles não estão fazendo. “Passei muito tempo pensando em como poderíamos incentivar os pais a lerem para os filhos como parte da consulta de atenção primária. Escrevi sobre a importância dessa prescrição. Mas podemos, com sucesso, ‘prescrever a leitura e a brincadeira’, essenciais para uma infância saudável, quando os pais são tão ocupados?. Sim!”, defende o pediatra.
Há temas subjacentes cruciais que conectam todas essas ideias: a importância de interagir com as crianças, respondendo às suas sugestões e perguntas, o valor do “antiquado cara-a-cara” com os pais e com os cuidadores e a importância de ajudar as crianças a encontrarem uma variedade de experiências, que não são todas sobre telas, em um mundo que é cada vez mais virtual para pais e filhos.
“Uma ‘receita para brincar’ que eu poderia prescrever aos pais, no final de uma consulta, é apenas dizer: confie em seu senso comum. Como você pode compartilhar um pouco de alegria com seu filho enquanto ele está explorando o mundo? O objetivo não é realmente validar o que eu acho, mas liberar os pais que estão se sentindo pressionados por uma cultura que diz não à brincadeira, uma cultura que diz que as crianças precisam ter videogames especiais, um iPad, ou ainda, precisam ter cada minuto de tempo estruturado para ‘vencer na vida’”, explica Chencinski.