Da Redação
Em 30/08/2008 às 11:47
Garbognin depôs em comissão que investiga um telefonema que partiu do gabinete do deputado prudentino Talmir Rodrigues (PV) para um preso de penitenciária em Valparaíso. A ligação teria ocorrido na ocasião em que a ONG prudentina organizou manifesto de familiares de presos no Distrito Federal, em novembro de 2007.
Na época, Talmir afirmou ter colocado o gabinete à disposição para a ONG. Talmir Rodrigues foi membro da CPI da Câmara que apurou o Sistema Carcerário.
A ONG é investigada pelo Ministério Público do Estado sob suspeita de fazer lobby no Congresso para tentar abrandar as regras do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) - o castigo imposto a presos que cometem infrações dentro do sistema prisional, conforme o Estadão.
Conhecida como Cida, o nome de Garbognin apareceria na contabilidade da facção – apreendida em fevereiro com Wagner Roberto Olzon, o Fusca, apontado como o tesoureiro da quadrilha – quanto em documentos recolhidos com as advogadas Patrícia Galindo de Godoy e Alessandra Moller – presas no mês passado em Presidente Prudente sob a acusação de chefiarem o "departamento jurídico" da organização.
A facção criminosa chegou a contribuir, segundo o Estadão apurou, até com o pagamento do aluguel da ONG, conforme lançamento feito no livro-caixa da facção em 20 de janeiro.
A matéria relata que a decisão de convidar Cida para prestar depoimento em Brasília foi tomada pelo deputado federal Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), relator da comissão de sindicância que apura o telefonema que partiu do gabinete de Talmir.
"Resolvemos chamá-la apenas porque foi a pessoa que organizou a passeata de parentes de presos em Brasília, em novembro do ano passado, durante os trabalhos da CPI do Sistema Carcerário", esclareceu Itagiba à reportagem do Estadão.
A presidente da ONG teria sido ouvida em 23 de abril, às 13 horas, numa sala de reunião reservada aos integrantes da Mesa Diretora da Casa, conforme o Estadão. Além de Itagiba, estavam presentes – segundo a reportagem – os deputados Inocêncio Oliveira (PR-PE), corregedor-geral da Câmara, e José Otávio Germano (PP-RS), membro da comissão. Segundo Itagiba, o depoimento dela pouco acrescentou às investigações. "Ela falou sobre a atividade da ONG e negou ter feito o telefonema do gabinete do deputado Talmir", disse ao Estado.
A assessoria da Corregedoria da Câmara informou ao Estado de S. Paulo que todas as pessoas convidadas a prestar esclarecimentos têm suas despesas custeadas pela Casa - tanto o transporte aéreo quanto o período de estada na capital federal. Entretanto, documentos apreendidos com as supostas advogadas da quadrilha indicam que Cida recebeu um "adiantamento" da facção, informa a reportagem. Numa das anotações, constaria: "Despesas com ONG Sra. Cida. R$ 3.000, pago em 22/04/2008." Abaixo, uma observação: "Débito de R$ 5.637,00 - 3.000, resta R$ 2.637, de despesa com telefone."
Em 20 de abril, interceptações telefônicas feitas por promotores do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) registraram uma conversa entre Marlon José de Souza Rosa, o Melke, preso na Penitenciária de Valparaíso, e uma mulher identificada como Cida - ao que tudo indica, Maria Aparecida Carbognin, de acordo com o Estado de S. Paulo. No diálogo, ela diz ter sido convidada para ir a Brasília. Ele se dispõe a custear a viagem. No dia seguinte, Melke telefonou para um dos chefes da quadrilha, Orlando Motta Júnior, o Macarrão, preso na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. Os dois presos trataram do pagamento e concluíram que "ela defenderia teses simpáticas à organização".
Os promotores também acharam uma planilha, na casa de Alessandra, na qual consta que a facção pagou R$ 2 mil a um "certo Doutor João, ligado a uma ONG, para que ele fosse a uma audiência em Brasília", segundo o Estado. O Gaeco ainda não obteve a identificação dele.
Maria Aparecida Garbognin foi procurada pela reportagem do Portal, mas não foi localizada. O telefone que consta na internet e que seria da ONG foi atendido em uma residência.