Da Redação
Em 01/06/2009 às 11:08
O início do século XX foi marcado pela chegada de milhões de imigrantes no Brasil. Vinham de todas as partes do mundo para o trabalho nas áreas rurais ou na indústria brasileira, que estava começando. A Igreja estava atenta às necessidades destes trabalhadores que se aventuravam em terras desconhecidas.
Foi aí que começou a história daquele, que pode vir a ser o próximo beato da Igreja, Monsenhor Domingos Nakamura, missionário japonês que veio evangelizar no Brasil. O processo de beatificação foi aberto, inicialmente, pela Pastoral Nipo Brasileira e, neste ano, após orientação do Vaticano, foi reaberto pela Diocese de Presidente Prudente, onde Monsenhor Nakamura realizou seu apostolado.
O bispo de Prudente, Dom Benedito Gonçalves dos Santos, em março de 2009, instituiu o tribunal de peritos, composto por sete padres e um leigo, que realizará todas as pesquisas referentes à vida e missão do padre japonês.
O padre Jurandir Severino de Lima, pároco da Paróquia São José, de Álvares Machado, onde o missionário japonês viveu, é um dos integrantes do tribunal. Ele relata que toda a vida de monsenhor Nakamura será revista e todas as pessoas que o conheceram em vida serão entrevistadas. Em seguida, a documentação vai ser analisada pela Congregação para a Causa dos Santos.
Instrumento de conversão - Monsenhor Domingos Nakamura foi ordenado em 1897, no Japão, e aos 59 anos de idade, recebeu o convite para viver no Brasil e acompanhar os imigrantes japoneses que chegaram ao País.
Chegou à América do Sul em 1923 e trabalhou durante 17 anos até sua morte, em 1940, em Álvares Machado. Durante sua vida no País, desenvolveu atividades missionárias em Minas Gerais, Mato Grosso, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. “Era conhecido como alguém que carregava duas malas: uma com suas roupas e outra com os utensílios para as missas, como cruz, castiçais e hóstias”, comenta padre Jurandir, ao destacar as viagens do missionário nas regiões do Brasil.
O pároco de Álvares Machado também ressalta que monsenhor Nakamura era muito admirado pelas crianças e muitos apreciavam suas conversas. “Muitos que o conheceram tem verdadeira veneração pelo seu tipo de pregação, pelo jeito que lidava com as pessoas e como conseguiu transmitir os valores cristãos”, recorda padre Jurandir. Outro aspecto que se destaca na vida do missionário japonês foi a conversão de muitos imigrantes de religião budista ao cristianismo.
Virtudes - Para o padre que faz parte do tribunal de peritos, as maiores virtudes de monsenhor Nakamura são a caridade, o amor à Eucaristia e a perseverança na fé. “Ele demonstrou um grande amor por Jesus Cristo, mesmo fora de seu país. Deu sua vida por causa do Evangelho e mostrou isso pelo seu amor ao próximo e às pessoas mais carentes”, enfatiza padre Jurandir, ao recordar que os imigrantes assistidos pelo missionário passaram por muitas dificuldades econômicas, culturais e também espirituais.
“Ele nos ensina a não ter medo do novo, a nos despojarmos de tudo em favor do Evangelho”, conclui o pároco da Paróquia São José ao falar sobre os ensinamentos de monsenhor Domingos Nakamura para os dias de hoje. (Com informações do site Canção Nova Notícias)
Veja a Biografia de Mosenhor Domingos Nakaura
O Primeiro Missionário Católico dos imigrantes Japoneses
Fukue, uma das ilhas do arquipélago Gato, nasceu Monsenhor Nakamura, no dia 22-08-1865, num vilarejo chamado Minami Matsuura-Gun, Okura Mura.
Foi batizado com o nome de Dominic Chohachi. Filho de Hatsugoro e Tsugue, que eram descendentes de cristãos refugiados.
Ficou órfão de pai em 1868, e perdeu sua mãe em 1880, com 15 anos.
No mesmo ano faleceu sua única irmã, Yone, e o único parente mais próximo era seu tio Kiuzo.
Em 1880 ingressa no Seminário de Nagasaki. Fez estudos clássicos, filosóficos e teológicos com distinção.
Após 17 anos, no dia 07-02-01897, foi ordenado, pelo Bispo Dom Cousin, de Nagasaki. Duas semanas depois, foi designado para as missões da ilha Amami Oshima, no sul do Japão. Trabalhou durante 26 anos naquela ilha, sendo muito estimado e admirado.
Em 1922, Dom Compaz, Bispo de Nagasaki, recebeu pedidos enviados por Dom Lúcio Antunes de Souza, Bispo de Botucatu, e com a intervenção da Santa sé Apostólica e do embaixador do Japão, solicitando o envio de um ou dois padres japoneses para atender os imigrantes que haviam chegado ao Brasil.
Como nenhum sacerdote se apresentou, Pe. Nakamura manifestou-se ao sr. Bispo, dizendo que, embora sendo idoso, aceitava a incumbência de ir ao Brasil.
Imediatamente foi aceito, e iniciaram os preparativos para sua viagem.
No dia 23 de abril de 1923, com 59 anos de idade, recebe o passaporte em Nagasaki, e em 11 de Julho, embarca no navio "Yusen Kawati-Maru", rumo ao Brasil, juntamente com um grupo de patrícios e outro padre, que faleceu durante a viagem.
Desembarcou no porto de Santos no dia 23 de Agosto de 1923. Pe. Nakamura pisava num solo estrangeiro pela primeira vez na vida. De imediato segue para o Rio de Janeiro e visita o Núncio Apostólico Dom Enrico Gasparri.
Recebeu do Núncio uma carta de recomendação às Ordens Eclesiásticas, asseverando que o apostolado entre os imigrantes japoneses era um desejo apostólico de Roma.
Finalmente no dia 30 de Agosto de 1923, chega à sede do bispado em Botucatu. É recebido com muita alegria por Dom Lúcio Antunes de Souza, primeiro prelado a solicitar a vinda de padre do Japão.
Sem perda de tempo, inicia sua caminhada missionária. Suas viagens foram as mais árduas e precárias.
Caminhava a pé, em longas caminhadas, em lombos de cavalos, em carroças, e raras vezes de trem. Carregava pesadas bagagens, como objetos para celebração e objetos pessoais.
Viajou pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Mato Grosso e Minas Gerais, em árduo trabalho de pastoreiro das almas.
Em Birigui, por muito pouco tempo, residiu numa moradia de extrema pobreza, em seguida fixou sua residência em Álvares Machado.
Sua casa era de dois cômodos, e localizava-se no meio da plantação de café e algodão.
Em 1927, Monsenhor Nakamura participou da fundação do Colégio São Francisco Xavier, na capital paulista, juntamente com Pe. Guido Del Toro, S.J., Pe. Miguel de Cruce, O.S.B. e Sr. Aoki Shinto.
Iniciou suas visitas a Bastos em 1930, vindo de Álvares Machado, via Rancharia. No dia 23 de Julho de 1930 inaugurou a 1ª Igreja de Bastos, que foi construída em madeira, e localizava-se defronte à atual Praça Kunito Miyazaka, onde está o almoxarifado da Prefeitura.
O cruzeiro feito em aroeira, foi lavrado pelo carpinteiro Yoshida, e está preservado como objeto histórico no museu municipal de Bastos.
Posteriormente foram construídas a 2ª,3ª e a atual Igreja, na praça atual da matriz. A criação da Paróquia ocorreu em 26-09-1940, por decreto de Dom Henrique César Fernandes Mourão, bispo de Cafelândia, e teve como primeiro vigário o Pe. Genésio Nogueira Lopes, por provisão de 28-09-1940.
O primeiro batizado realizado pelo Monsenhor Nakamura em bastos foi de Ayako, filha do Sr. Tomotani.
Em 1938, no Palácio Episcopal de São Paulo, Monsenhor Nakamura recebeu, pelas mão do Almirante Shiniro Yamamoto, da Marinha imperial Japonesa, a medalha "Ordem de São Gregório, o Grande", que lhe foi concedida pelo Papa Pio XI.
Monsenhor Domingos Nakamura, após 42 anos de sacerdócio, dos quais 17 anos no Brasil, faleceu no dia 14 de março de 1940, às 16h, em Álvares Machado, no então bairro Brejão, deixando exemplo de dedicação, humildade e pobreza, como verdadeiro Apóstolo de Cristo.
Em sua homenagem foi inaugurado, em Álvares Machado, no dia 17 de Março de 1991 o "Memorial Monsenhor Domingos Nakamura", com a participação histórica dos imigrantes japoneses e seus descendentes.
Seu túmulo é visitado com muita freqüência por seus seguidores, simpatizantes e admiradores. (Fonte: Diocese de Presidente Prudente)