José Artur Gonçalves
Em 22/11/2008 às 09:23
Um estudo do historiador Ronaldo Macedo, do Museu e Arquivo Histórico de Presidente Prudente, confirma que a personagem homenageada com a denominação de Rua Bela, uma das principais vias do município, é a pioneira Isabel Dias Goulart, casada com o coronel Francisco de Paula Goulart, um dos fundadores de Presidente Prudente. Bela ou "Bella" era o apelido familiar da esposa de Goulart.
O histórico elaborado por Macedo comprova que a denominação "Bela" não é "indefinida", mas sim um apelido, o que pode pôr fim à pretensão de se alterar o nome da rua para homenagear o patriarca da igreja Assembléia de Deus, pastor Carlos Padilha. É que, por força de um lobby evangélico, tramita na Câmara de Presidente Prudente projeto de resolução que permite mudar nomes indefinidos de ruas no município.
A resolução, que altera o Regimento Interno da Câmara sobre denominações de vias, tem que ser aprovada primeiro, para que depois a Rua Bela possa ter seu nome modificado, como propõe um outro projeto, de autoria do vereador Alcides Seribeli (PTB).
O historiador aponta que Goulart realizou diversas homenagens à esposa, mas que a única que permaneceu “de fato” foi a denominação da Rua Bela. Nos anos 1920, a atual Avenida Brasil recebera o nome de Avenida D. Isabel e um loteamento situado abaixo da atual Praça Monsenhor Sarrion, comercializado por Goulart, foi batizado igualmente de Vila Isabel.
“De todas” as homenagens, afirma Macedo, “a que ficou, de fato, foi a denominação de uma das ruas da Vila Ocidental, loteamento aberto nos finais da década de 1920, às margens do córrego do Bacarin, a famosa Rua Bella, apelido carinhoso e familiar de D. Isabel, e que permaneceu para que a cidade se lembre da participação das mulheres na criação de uma cidade e homenagem mais que devida a essa fundadora e bandeirante do século XX”.
O pesquisador pontua ainda que no prolongamento da Rua Bela, partindo da Avenida Cel. Marcondes e chegando à Avenida Brasil, a via assume outro nome, o do fundador da cidade, Francisco de Paula Goulart, “numa justa homenagem a esse homem empreendedor que criou uma cidade em pleno sertão. “As duas ruas homenageiam o casal de fundadores, em bairros próximos ao centro da cidade, núcleo inicial de Presidente Prudente”, opina.
Ao traçar o perfil histórico de Dona Bela, Macedo destaca o papel da mulher na colonização e urbanização de Presidente Prudente. Para ele, D. Isabel “tornou-se heroína da fase contemporânea de formação da região”.
Francisco Goulart, filho do coronel Manoel Goulart, casou-se com D. Isabel, filha de tradicional família de Cerqueira Cesar, os Cintra. O irmão de D. Isabel também veio a Presidente Prudente e se tornou uma figura destacada no meio político, o vereador José Dias Cintra, que hoje dá nome a rua no município.
Macedo relata que, “em 1917, Francisco resolveu fundar um núcleo urbano na Pirapó-Santo Anastácio, sendo apoiado por sua mulher, com quem dividia as suas decisões. Criado o primeiro traçado do núcleo e com as obras da ferrovia avançadas, a EF Sorocabana resolveu construir uma represa no córrego do Veado para abastecer a nova estação do núcleo Vila Goulart, que seria Presidente Prudente”.
Segundo ele, D. Isabel foi atuante na vida de Presidente Prudente, até o final de sua vida. “Quando Francisco morreu, em 1966, ela tentou levar adiante os projetos inacabados do marido, fora de Presidente Prudente, de onde ele se dizia expulso pelo coronelismo político local. Isabel não resistiu. Morreu dois anos depois, isolada, como o esposo”, relata.