Segunda-feira 1 de maio de 2018 | Presidente Prudente/SP

Morre Jaime Kusabara, responsável por implantar o judô na região

Cássio Oliveira

Em 16/06/2020 às 22:19

Sensei Kusabara foi agraciado com o título de "Cidadão Prudentino" em 2004

(Foto: Cedidas/Fernando Martinez)

Nesta terça-feira (16), o esporte do Oeste Paulista amanheceu de luto com a morte do sensei Jaime Kazumi Kusabara, aos 87 anos. Faixa preta, 7º Dan, o mestre foi o pioneiro do judô em Presidente Prudente e região. Por sete décadas, ensinou a arte marcial – fundada por Jigoro Kano, no Japão, em 1882 – e a disciplina do “caminho suave” para milhares de alunos.

Kusabara, que já estava doente e com suspeita de coronavírus, morreu na noite de segunda-feira (15). O corpo foi sepultado na manhã desta terça-feira, no Cemitério Municipal São João Batista, em Prudente.

“Ontem [segunda-feira], meu pai, foi embora. Foi morar no céu. Está com a minha mãe, com certeza fazendo uma feijoada para comemorar meu aniversário que é hoje [terça]. Descansem em paz! Obrigada pelas lições e convivência. Beijos, saudades”, escreveu, emocionada, Sílvia Kusabara Barbosa, uma das filhas do sensei em seu perfil nas redes sociais

A Federação Paulista de Judô (FPJ) publicou nota de pesar pelo falecimento do sensei, que fez história no Interior. “A diretoria da federação externa os sentimentos a todos os familiares do professor Jaime Kusabara”. Conforme a nota, devido à pandemia da Covid-19, o velório e sepultamento foram restrito à família.

Deixou legado

Kusabara residia na capital do Oeste Paulista desde 1951, sendo pioneiro do judô prudentino e regional. “O sensei Jaime Kusabara foi importante para minha vida, bem como para a maioria dos praticantes de judô em nossa cidade”, ressalta Fernando Martinez, fotógrafo, ex-aluno do sensei e atualmente professor da arte marcial em Presidente Venceslau, na Associação Venceslauense de Judô Kenshin (AVJK) – começou em janeiro de 2019.



“Conosco era um paizão. Um grande sensei. Ele [Jaime] foi o meu segundo sensei e sempre acompanhou a minha vida. O primeiro era o irmão mais velho dele, o sensei Hideo, da Nipo-Brasileira. Comecei a fazer judô aos seis anos e ambos foram meus mestres. Influenciava a região, bem respeitado na federação e era um dos mais graduados”, relembra.

Anos de convivência

O nutricionista Rodolfo Weber Zanin, que é judoca, faixa preta, 4º Dan, e delegado adjunto da 13ª Delegacia Regional da Alta Sorocabana – André Gustavo Costa Goncalves é o atual delegado –, começou, aos seis anos de idade, com o Jaime Kusabara.

“Tenho muito que agradecer. Porque, se hoje eu sou um homem, tenho família, continuo praticando o judô, possuo faculdade, uma formação, e sou uma pessoa integra e direita, é tudo graças ao sensei e seus ensinamentos de anos. Além de me ensinar o judô, o professor Jaime Kusabara me ensinou muitas coisas para vida”, pontua.

Zanin recorda o seu início no judô. “Treinei dos 6 aos 18 anos com o sensei Jaime Kusabara. No começo, meu pai e irmão treinavam e não tínhamos condições de pagar três mensalidades. Foi, então, que o sensei me convidou a treinar com ele. Ganhei uma bolsa 100% e fui auxiliá-lo nas aulas, que eram realizadas na antiga Academia Luiart e no Tênis Clube. Tive uma convivência muito próxima dele. Sempre estávamos juntos nos treinos, viagens e nas competições. Várias vezes eu não tinha condições de comprar um quimono e ele me dava um ou reforma outro e me dava”, relembra Zanin, de forma emocionada.

“Diversas vezes eu não tinha condições de competir [voz embargada] e ele levava. E, assim, foi a nossa convivência. Foram quase 12 anos da minha vida. Fui o primeiro faixa preta, com 15 anos, no Estado de São Paulo, e o faixa preta mais novo do sensei Jaime, que sempre me apoiou na parte dos estudos, dos treinos de katá [conjunto das técnicas fundamentais, um método de estudo especial, para transmitir a técnica, o espírito e a finalidade do judô] e, principalmente, na minha formação como ser humano e voltada ao ensinamento do judô”.

Semente plantada

O professor Nelson Morimoto, diretor da Academia Nelson Morimoto, também lamenta a morte do mestre. “Triste notícia! Fica a saudade. E hoje, ele parte para o mundo celestial, com seu 7º Dan, merecido e justo. Que descanse em paz. Cumpriu sua jornada terrena e deixa um legado para muitos, que não acabe com a semente plantada”, enfatiza.

Morimoto relembra sua época de juventude junto com a família Kusabara. “Aí me veio à lembrança dos tempos de jovem, dos treinos no barracão no fundo da casa do sensei Hideo Kusabara, um barracão pequeno, mas na época parecia enorme, de madeira, como o tatame de pó de serra coberto com uma lona do tipo encerado, que no frio doía até a alma da gente”.

“Tive a alegria de dividir o tatame e os ensinamentos do sensei Jaime Kazumi Kusabara com grandes amigos, e alguns bem especiais como o sensei Setsuro Ito, japonês natural e muito forte, também Sinval Ribeiro, um judoca muito forte do Mato Grosso. Os amigos e quantos amigos que pisavam naquele tatame e que marcaram época no judô prudentino”, frisa.

Morimoto pontua que os irmãos Hideo e Kazumi Kusabara coordenavam os treinos e ensinamentos. “O sensei Hideo com as massagens e os conselhos. Já o sensei Kazumi, que na sua simplicidade, passava seus conhecimentos, ensinamentos e exemplos. E, muitas vezes, costurando a mão a lona que rasgava. E, nós ali, treinando feitos loucos no barracão”.

Fuga de terroristas e título de Cidadão Prudentino

Segundo pesquisa científica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (FCT/Unesp) de Prudente, realizada pelo professor de Educação Física Wilson José Girardi Facio, a família Kusubara mudou, em 1949, para a capital do Oeste Paulista.

Eles fugiam da perseguição imposta à colônia japonesa pelo movimento chamado “Shindo Renmei” – associação de caráter nacionalista e considerada com organização terrorista criada no interior de São Paulo no início da década de 1940 por isseis (foram os primeiros imigrantes japoneses que chegaram no Brasil e vieram a partir de 1908).

Em 1951, com intuito de cumprir suas obrigações junto ao serviço militar, o jovem Kazumi Kusubara passou a trabalhar com seu pai, Yoshimatsu Kusubara, fundador da primeira academia particular de judô da Alta Sorocabana, a Associação de Judô Nipo-Brasileira de Presidente Prudente.

Aulas para ex-prefeitos

Ministrou aulas de judô por sete décadas. Dentre as centenas de alunos que passaram por suas mãos, aparecem algumas personalidades prudentinas que alcançaram a faixa preta por intermédio do sensei: Stanley Zaina, Florivaldo Figueiredo Leal e Watal Ishibashi.

Pioneiro do judô regional, sensei Jaime Kusabara implantou esta arte marcial também em alguns municípios da região: Santo Anastácio, Martinópolis e Regente Feijó. Atuou como técnico da Seleção Prudentina de Judô por 10 anos: de 1975 a 1985.

Introduziu o judô ainda nos principais clubes sociais da cidade: Associação Prudentina de Esportes Atléticos (Apea) e Tênis Clube. Pela FPJ, atuou como tesoureiro da 13ª Delegacia Regional da Alta Sorocabana, coordenador técnico e de árbitros.



Em reconhecimento aos relevantes serviços prestados, o sensei Kusabara foi agraciado com o título de "Cidadão Prudentino", em 2004, pela Câmara Municipal.

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