Rogério Mative
Em 28/03/2011 às 11:04
Alexandre Portelhinha é infectologista e coordenador do programa DST/Aids em Prudente
(Foto: Rogério Mative)
Desconhecido pela maioria da
população, o vírus do papiloma humano (VPH
ou HPV, do inglês human papiloma virus) pode estar presente em 50% das
pessoas sexualmente ativas. Transmitido através de contato sexual, o vírus pode
causar câncer no homem e, principalmente na mulher, maior vítima do HPV,
segundo o infectologista e coordenador do programa DST/Aids em Presidente
Prudente, Alexandre Portelinha Filho.
Existem mais de 150 tipos de HPV,
porém, dois deles, os subtipos 16 e 18, podem causar câncer de colo uterino na
mulher e de reto nos homens. Segundo recente pesquisa no Reino Unido, o sexo
oral também é apontado com porta de entrada para o HPV e consecutivamente o
aumento de casos de câncer na boca e garganta em jovens.
"A transmissão acontece
através da relação sexual sem proteção. Se uma pessoa tem o vírus responsável
pelas verrugas e não usar o preservativo poderá passar para o parceiro tendo a
possibilidade de desenvolver a doença. Vai depender do sistema imunológico de
cada um", explica especialista prudentino.
Ainda segundo Portelinha, o vírus
é transmitido quando acontece uma lesão nas verrugas. "É uma doença
transmitida via sexual quando tiver a lesão presente. Basicamente em si, quando
tiver só a verruga, não é passível de transmissão. Você tem que ter contato com
fluídos genitais contendo o vírus. Ele vai causar a lesão no ponto que penetrar
na mucosa de quem vai receber esse vírus. Mucosa é aquela pele genital mais
fina do órgão sexual masculino e feminino", pontua.
Outra pesquisa divulgada em
fevereiro indica que metade dos homens saudáveis está infectada com HPV. O
estudo acompanhou por quatro anos 4.074 homens de 18 a 70 anos do Brasil, dos
EUA e do México. No Brasil, foram 1.159 homens entrevistados. Eles tiveram
amostras recolhidas do pênis e do escroto submetidas a análise. Dos 50% com
HPV, 30% tinham o vírus que pode levar a câncer, 38% tinham o não cancerígeno,
e o restante tinha mais de um tipo de HPV.
Portelinha acredita que os
números ainda não refletem a realidade prudentina. "Cinquenta por cento é
um número muito grande para indicar que pessoas tenham lesões por HPV. Fico
preocupado. Mas acredito que estamos longe desses números aqui em Prudente. Não
temos pesquisa desse nível aqui, não é comum. O índice aqui é muito mais baixo.
Digo pela experiência que tenho com os pacientes que eu atendo que têm DSTs.
Não chega a esse ponto alarmante", espera.
Nas mulheres, além de ser
responsável por 80% dos casos de câncer do colo do útero, o vírus pode provocar
verrugas na vagina e sintomas desagradáveis, como prurido, coceira e
corrimento. Nos homens, a incidência de câncer, devido ao HPV, é muito baixa,
mas há ocorrências de câncer de pênis e anal, além da formação de verrugas
genitais.
Segundo o Ministério da Saúde, um
estudo feito em seis capitais brasileiras, em 2005, publicado em 2008, mostrou
a prevalência de HPV – em mulheres e homens que procuraram atendimento em clínicas
de doenças sexualmente transmissíveis – de 41% de um total de 3.210 pessoas. De
acordo com uma estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), o HPV atinge
685.400 pessoas no país.
"As pessoas acabam
procurando atendimento quando aparecem verrugas. O alerta é: quando aparecer
verruga, procure imediatamente um médico. Não pense que é uma verruga de pele.
Assim será feito um tratamento para que essa verruga seja retirada, ou com
tratamento cirúrgico ou tópico. É possível que a gente controle isso e previna
um câncer", diz Portelinha.
Sem remédio específico, o
tratamento é feito por algumas maneiras, de cremes à cauterização. O
diagnóstico pode ser realizado através de exame de sangue ou com ajuda de
aparelhos. "O diagnóstico pode ser feito de varias maneiras como o exame
de sangue. A maneira mais fácil é o diagnóstico visual, quando percebemos as
lesões. Podemos fazer também com ajuda de aparelhos. Como não existe remédio
para ser tomado, o tratamento é através de cauterização [ato de queimar a verruga]
ou remoção cirúrgica, indicada quando as lesões são grandes. Em pequena escala,
é usado creme tópico", exemplifica.
Porém, o especialista faz uma
ressalva. "São os tratamentos que são eficazes. O tempo de tratamento
dependerá do tamanho das lesões. Os cremes devem ser passados até que
desapareçam totalmente as verrugas. Agora, tem que ficar atento para que não
voltem. Pode ter resistiva e a lesão voltar. Temos que fazer o tratamento até
que não volte mais. O sistema imunológico tem participação muito importante.
Muitas podem ter recebido o HPV e não terem desenvolvido lesões. O próprio
sistema pode eliminar o vírus. A volta pode ter resposta com o sistema
imunológico baixo", afirma.
"O vírus é um ser
microscópico e as vezes pensamos que tiramos ele, mas não conseguimos. As vezes
fica uma lesão que não vemos a olho nu e
ela começa a proliferar outra vez. Quando a resistiva é grande a gente tem que
fazer um processo cirúrgico, tomando cuidado para tirar toda a porção afetada
pelo vírus", reforça.
Portelinha ainda alerta para o
risco de outras DSTs. "Toda DST é uma porta de entrada para o HIV e outras
doenças. Se o indivíduo se protege de uma doença será protegido de todas. A
gente tem visto um aumento em todas as faixas etárias. Mas se concentra entre
os 15 a 45 anos. Vemos na faixa mais sexualmente ativa um número maior nesses
indivíduos. Vejo também casos de gonorreia e sífilis cada vez maiores. Toda
semana eu tenho um caso de sífilis que atendo", conclui.