*Rubens Shirassu Júnior
Em 07/05/2015 às 13:44
(Foto: Ilustração)
A pichação, uma das expressões mais visíveis da invisibilidade humana, mais do que meros rabiscos, estabelece uma relação de pertencimento com a comunidade – mesmo que por meio de agressão – e, ao mesmo tempo, de dar ao autor um sentido de autoidentidade.
Naqueles garranchos incompreensíveis para muitos, a arte mistura-se à necessidade de dizer simplesmente “eu existo, preste atenção em mim.” Note-se que os pichadores não subiram nos prédios para assaltar, mas apenas para desenhar.
Esse grito de existência em forma de letras é, portanto, a busca de uma aceitação, mas usando a transgressão. E, nisso, surge um foco de tensão. Desconta-se a transgressão na sociedade que exclui, enquanto, num círculo vicioso, os garranchos mantém os pichadores excluídos. Quem não vê a pichação por esse lado, não entende todo um mundo subterrâneo que, do seu jeito, busca a luz.
Mas a pichação – mostra também o seu lado mais polêmico – acaba por impingir, na marra, sem direito à opção, uma estética. Obriga-se o dono de um muro ou da fachada de uma casa a aceitar aquela expressão, como se tivesse de ostentar a lembrança da marginalidade alheia. Se muitos deles são movidos por um direito ferido – o da expressão -, eles ferem o direito dos outros de pintar suas casas como bem entenderem.
Certa vez, assisti a uma série de reportagens na televisão, na qual pichadores são convidados a estilizar suas letras e queimá-las em cerâmica, para recuperar os muros do cemitério São Paulo, na Vila Madalena. A autorização para as intervenções não os afastou.
Pelo contrário, até ficaram satisfeitos em ver as letras ampliadas, muito visíveis e coloridas, como parte de uma grande instalação. Como estão feitos em cerâmica, aqueles desenhos deixam de ser passageiros.
Ganham mais permanência. Retilíneos e angulosos, como a silhueta da cidade, seja em Presidente Prudente ou São Paulo, as pichações são mais retas. É um reflexo de metrópole. A transgressão nesse sentido, soube encontrar um ponto de equilíbrio com a população em geral.
*Rubens Shirassu Júnior é escritor
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