(*) João Bosco Leal
Em 01/07/2011 às 10:59
Em uma visita a uma senhora com mais de
noventa anos, dela ouvi algo que tem me valido muito: "Quando estiver
nervoso e em meio a uma discussão ouvir algo que o desagrade, ao invés
de responder de imediato, encha aboca de água e não engula, permanecendo
assim pelo maior tempo possível."
É uma lição fantástica por sua
simplicidade e grande abrangência. O fato de estar com a boca cheia de
água nos impede de dizer algo naquele momento pelo tamanho da sujeira
que causaríamos e é exatamente isso que ela pretendia ensinar.
Sempre que respondemos de imediato a uma
provocação ou a qualquer coisa que nos desagrade, normalmente dizemos
coisas que depois nos arrependemos de haver dito, que poderiam ser ditas
de modo menos agressivo ou mesmo que nunca deveriam ter sido ditas.
Palavras ditas agressivamente muitas
vezes cortam mais que navalhas e deixam cicatrizes profundas, que mesmo
quando perdoadas não se apagam, permanecem expostas para sempre.
Lembro de um conto sobre um pai que,
querendo ensinar seu filho o mal que as palavras poderiam causar, pediu a
ele que cada vez que ficasse nervoso, ao invés de brigar ou gritar com
alguém, pregasse um prego em uma placa de lata. Depois de determinado
período aquele pai pediu ao filho que lhe trouxesse a placa que já
possuía muitos pregos.
Após determinar ao filho a retirada de
todos os pregos da placa disse-lhe que mesmo que todas as pessoas com
quem ele teria brigado ou gritado o perdoassem, permaneceriam em seus
corações várias cicatrizes, como os furos na placa, que jamais seriam
apagadas.
Por não serem ensinados a partilhar,
desde sua infância os seres humanos discutem por motivos insignificantes
como egoísmo e sentimentos de propriedade. O menino não empresta a bola
mesmo quando não a está usando e a menina não admite que ninguém pegue
sua boneca.
Crescem e continuam discutindo, brigando com outros jovens ou desrespeitando e até mesmo maltratando os mais velhos.
Adultos se casam e mesmo em casa, com o
próprio cônjuge, muitas vezes discutem de maneira mais acalorada e
acabam agredido ou até mesmo ofendendo o outro com palavras.
Discussões por motivos fúteis como por
futebol ou por uma fechada no trânsito muitas vezes acabam até em mortes
e certamente poderiam ser evitadas se uma das partes envolvidas não
tivesse respondido à agressão.
Muitos assuntos do dia a dia que
provocam discussões poderiam ser tratados de modo pacífico e
provavelmente agradando os dois lados, se simplesmente fossem adiados,
deixados para ser falados em outro momento, quando todos estivessem
calmos, em clima mais apropriado para uma conversa franca.
Se conseguirmos nos manter calados, sem
reagir quando somos agredidos, provocados por pessoas em busca de
discussões, certamente conseguiremos impedir que a agressão se
transforme em uma discussão que poderá ser de consequências desastrosas.
O silêncio diante de uma agressão verbal
normalmente constrange o agressor, que por não obter reação contrária é
levado a interromper a mesma.
Colocando água na boca e aguardando
outra oportunidade para falar evitaremos discussões desnecessárias e de
resultados dolorosos.
(*) João Bosco Leal é articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários
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