Segunda-feira 1 de maio de 2018 | Presidente Prudente/SP

Articulista escreve sobre "A política das mil caras"

Eliseu Visconti*

Em 28/05/2011 às 07:59

Pode-se interpretar a assunção de diferentes faces como um ato de traição. Atores e poetas vivem, de certa forma, seus personagens. Muitos deles confundem-se com as suas criaturas, e conseguem se mimetizar com elas e ninguém garante se eles, poetas e atores, adquirem de fato aquelas personalidades.

Poucos desempenham os seus papéis ou alter-ego com a desfaçatez dos cínicos.

Fernando Pessoa afirmava que “o poeta é um fingidor,” e os seus principais heterônimos tinham diferentes ocupações, hábitos e cada um com o seu mapa astral.

Lon Chaney, filho de pais surdos, adquiriu a incrível habilidade de se caracterizar como as mais surpreendentes caracterizações, e foi conhecido como “O homem das mil faces,” que rendeu um filme, “The man of a thousand faces” de 1957, estrelado por James Cagney. (será ele ainda mais cínico do que o protagonista?)

Billy Liar, 1963, com Tom Courtenay, (Billy, o mentiroso) vivia o sonho de sair para uma cidade grande e se tornar um escritor de comédias.

Todo este intróito dedica-se a externar um profundo desgosto com o meu país e a cidade em que tento sobreviver. O desencanto trata da política, este guarda-chuva grande e aberto, que só tem acolhido em seu bojo a prática da mentira, da traição, da cobiça, dos conciliábulos, das falsas religiões, da chantagem e da corrupção.

No plano nacional, vimos o trato que se dá aos ladrões das suas falsidades como se nada tivesse acontecido. Ninguém paga por seus crimes, e tudo se passa a limpo. Réus passam a ser acusadores. Mentirosos negam a evidência. Todos são inocentes, culpados ou não.

Na minha cidade, prefeito sujeita vereadores, que por sua vez baixam as cabeças, e pouco produzem;  pactua com os antes inimigos mortais e celebra alianças impensáveis, tudo em nome da política, e em nome da cobiça.

As traições campeiam nos gabinetes, que pugnam por conquistar as benesses dos políticos estaduais e municipais, prestando-se servilmente para colocar seus protegidos – muitos despreparados, moral e intelectualmente – que por sua vez, os protegidos, correm para debaixo do guarda-chuva, julgando-se a salvo. Quanta ilusão!

Sinto-me como se fora um profeta bêbado, que tropeça nas ruas com a voz rouca, tentando anunciar as suas crenças e convicções. Ninguém ouve, ninguém tem tempo e nem compreende. Todos afivelam-se a máscara de ocasião, seja a face dos filósofos, a dos religiosos, a dos doutores em lei, a dos guardiães da ordem e a dos falsos conselheiros, sempre em benefício do seu egoísmo pessoal, com o seu caráter cínico. Há os falsos humildes, que só “querem o bem e o interesse da população.”

Estes atores não merecem o aplauso, mas o opróbrio. Eles haverão de prestar contas a alguém, seja a Deus ou aos demais seres humanos.

Confesso, pois, o desânimo e a desilusão, ao julgar que a minha cidade ainda irá sofrer e continuará sendo vítima daqueles que praticam as mil faces, julgando-se vencedores.

No final da comédia, cairá o pano.

*Eliseu Visconti é jornalista e escritor

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