João Bosco Leal*
Em 21/02/2011 às 12:02
A vida realmente nos proporciona uma
quantidade inimaginável de prazeres, dos mais variados tipos, e,
recentemente, estou sentindo mais um que chega por um meio para mim novo
e pouco explorado, as chamadas redes sociais na internet.
Meus filhos sempre me chamaram pra
entrar em seus Orkut, Facebook, e todas as variáveis destes, que os mais
jovens usam, mas sempre me recusei. Dizia a eles que também não
deveriam usar, preocupado com a exposição pública de detalhes de nossa
vida, como telefone, e-mail, filiação, filhos, e tantas outras
informações que são divulgadas que, em mão erradas, poderiam causar
enormes dissabores.
Por mais que ouvisse comentários sobre
alguém que viu ou soube de algo, ou de alguém, nesse tipo de contato, eu
nunca me dispunha a usar. Criei uma espécie de barreira contra isso, de
tal modo que nem dava oportunidade para a continuidade do assunto, logo
dizendo que não usava e pronto.
Por outro lado, sempre gostei de estar
atualizado com as novas tecnologias, e aquilo me incomodava. Continuava
preocupado com a exposição e os consequentes riscos à segurança de meus
filhos e netos, mas percebia que estava ficando de fora de muita coisa
ocorrendo nesse mundo.
O conflito entre minhas próprias
opiniões e a ignorância que acabei sentindo, - apesar de usar outras
áreas de informática e internet já há muitos anos, principalmente na
área profissional, exatamente a que me ensinou essa preocupação com os
crimes virtuais -, me levou a fazer a inscrição em um desses programas,
me expor, e começar a utilizar aquele que, para mim, era o mais novo
veículo de comunicação.
Quantas surpresas agradáveis passaram a
ocorrer depois de haver tomado essa iniciativa. Pessoas que fizeram
parte de algum momento de minha vida, ou que ainda fazem, seus filhos ou
netos apareceram às centenas, me adicionando como "amigo", dando
notícias, e mostrando fotos atuais ou mesmo de nosso passado.
Apareceu um amigo que já não via,
segundo ele, há quarenta e cinco anos. Eu havia me "casado" em uma festa
junina com sua irmã, quando eu tinha, imaginem, aproximadamente dez
anos de idade. Deu notícias suas, de seus pais, de sua irmã, de sua
profissão, seus filhos e sobrinhos. Em segundos acabei conhecendo, mesmo
que superficialmente, diversas histórias das vidas deles, e os fatos
mais importantes ocorridos durante o período desse afastamento.
É indescritível a sensação de, mesmo que
virtualmente, reencontrar pessoas que fizeram parte de nosso passado,
nossa história, ver suas fotos, de seus descendentes, saber no que se
transformaram, o que fazem, onde e com quem vivem, e todas as outras
coisas que normalmente temos curiosidade de saber sobre os amigos.
Com esse sentimento comecei a pensar na
imensurável quantidade de possibilidades que isso pode proporcionar, e
logo já estava pensando nos nossos irmãos brasileiros menos favorecidos,
que abandonam tudo, inclusive suas famílias, e partem para os grandes
centros do país, em busca de melhores oportunidades, de trabalho, e de
uma vida mais digna, o que na maioria das vezes não ocorre,
principalmente por não possuírem qualificação para um mercado cada vez
mais exigente.
Tentei imaginar, mesmo sabendo ser muito
difícil, o que sente uma pessoa assim, que abandonou suas origens, na
grande maioria das vezes não por vontade própria, mas por necessidade,
para inclusive deixar de passar fome, e com isso abandona tudo e todos, e
normalmente nunca mais os vê ou sabe sobre destes.
As redes sociais de comunicação
precisam ser imediatamente disponibilizadas, gratuitamente, nos mais
remotos cantos de nosso país, assim como o programa "Luz para todos",
que levou ou está levando energia elétrica até para as mais distantes
propriedades rurais do interior do país. Para que todos,
indistintamente, tenham acesso incondicional a elas, principalmente
aqueles que, mesmo desqualificados, com sua mão de obra braçal, produzem
a grande maioria das riquezas do país.
(*) João Bosco Leal é articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários