Segunda-feira 1 de maio de 2018 | Presidente Prudente/SP

Escritor prudentino debate sobre "Surto de Livros"

*Rubens Shirassu Júnior

Em 16/11/2013 às 18:01

(Foto: Ilustração)

Dos diversos enfoques que se pode dar à questão da literatura de Presidente Prudente, um dos mais esclarecedores sobre a representatividade do chamado surto do livro em nossos dias é aquele visto como fenômeno social e manifestação cultural de um povo que, no início do século 20, tinha 80% de analfabetos.

O significado do espaço teórico recebido nas discussões sobre literatura  há que buscá-lo na perspectiva histórica revelada no lento processo do Brasil e de Presidente Prudente, para evoluir da condição de um atraso cultural acachapante para a formação e conquista gradativa de um público leitor.

Uma abordagem do fenômeno, descuidando dessa dimensão cultural, e que desconheça suas peculiaridades enquanto fato num País terceiro-mundista, corre o risco de não lhe desenhar o verdadeiro contorno desprendendo-se do contexto onde ele efetivamente se dá e onde, exclusivamente, ganha sentido.

Contudo, é inegável a expansão do público leitor, especialmente infanto-juvenil, ocorrido no início da década de 2000. Tal fato pode ser atribuído a dois fatores principais: o aumento do poder aquisitivo da burguesia urbana trazido pela industrialização, os programas sociais e o crescimento da faixa de escolaridade obrigatória que significou maior número de jovens leitores.

Como decorrência, aconteceu acentuada demanda no movimento editorial verificado entre 80 e 90, período de surgimento de novos autores de literatura em geral, da publicação bem maior de títulos e da reedição de textos de períodos anteriores. Podemos ilustrar com o kit literário onde os alunos conheceram a prosa única e original das Primeiras Estórias de João Guimarães Rosa, O Ex-Mágico de Murilo Rubião, A Máquina Extraviada de José J. Veiga, Madame Bovary de Gustave Flaubert, a arte poética nas antologias de Vinícius de Moraes, Mário Quintana, Adélia Prado, entre tantos outros nomes ilustres esquecidos do grande público e do meio editorial.

Além disso, temos que fazer jus à iniciativa dos organizadores do CLIPP (Concurso Literário de Presidente Prudente), na última edição da série, de número VII, ao selecionar escritores do Rio Grande do Sul, Paraná e de Portugal, comprovando a boa aceitação e divulgação, além de aumentar a credibilidade da obra. Faltou apenas uma melhor coordenação editorial, incluindo no índice o título da obra, o nome do autor e a página correspondente do trabalho e, no final da seleta, elaborar, por ordem alfabética, um breve histórico dos escolhidos, no máximo 10 linhas, para que o(a)s leitor(a)s conheçam a trajetória de cada um.

A leitura tanto dos poemas como dos textos demonstra os valores cristãos, como o amor, a amizade, o respeito, o adultério e a solidariedade, além da tradição e o hábito cultivado pelas avós e mães, derivado da cultura portuguesa.

Em algumas prosas temos mais palavras como preconceito, as relações e os desejos homoafetivos, ostentação, orgulho, arrogância,  fornicação, contemplação, adultério e ingratidão. Numa foto no estilo noir, em preto e branco, a realidade nua e crua, “pungente sobre o que estamos acostumados a assistir na relação  capital versus ser humano, trabalho versus gente, em que a idade torna-se uma senha para um apartheid funcional e o ser pensante.

Crítico e artista não têm lugar num sistema produtivo, em que as tarefas repetitivas e enfadonhas apequenam e insularizam o ser. E é uma óbvia crítica ao mercado, que ávido de competição e produtividade, proscreve os de meia-idade, porque o capital só enxerga agilidade nos mais novos, estes também fáceis de manipulação, porque para mostrar o melhor de um produto, acabam revelando o pior de si.

Assim, também, os testas-de-ferro dessas empresas que agem em nome de um patronato insensível e sem rosto. Espelhou-se bem o status quo.” – diz Ronado Cagiano, escritor, poeta e crítico literário, sobre o conto A Entrevista.

*Rubens Shirassu Júnior é designer gráfico e escritor

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