Rubens Shirassu Jr.(*)
Em 28/04/2011 às 17:10
(Foto: Rubens Shirassu Jr.)
“A
vanguarda brasileira é moralista. Trocou o convento pela célula política”, disse certa vez a
filósofa Marilena Chauí. Mais de uma vez, eu disse coisa parecida. Mas, como só
se permite fazer a crítica do discurso competente com a competência de títulos
universitários e eu não os tenho, sou acusado de “fobia das esquerdas” – conforme
escrevi no meu artigo “Miopia Progressiva”, publicado nos anos 90, sobre os
adoradores da cartilha de partido, da ciência e do Estado.
De modo
que me vejo obrigado a retomar uma entediante discussão – que eu já julgava
superada – para explicar que fazer críticas à esquerda não significa
automaticamente ser de direita. Antes de tudo, critico as esquerdas com a maior
consciência, justamente porque elas dizem destruir o poder opressor quando, em
geral, o estão instituindo em novos moldes. Além disso, dedico especial atenção
às esquerdas porque no interior delas e não das caquéticas direitas é que se
estão desenvolvendo os debates mais inteligentes sobre nosso tempo. Mas
autodefinir-se de esquerda não significa, necessariamente, garantia de
progressismo. Ao contrário, frequentemente, dizer-se de esquerda é um jeito de
ser camufladamente conservador: utiliza-se o discurso progressista como forma
de se proteger contra ele.
Não
pretendo com isso, dizer nada de novo. Há muito tempo se conhecem críticas, por
exemplo, à esquerda marxista que criou deuses materialistas como o Estado,
novos papas, santos e beatos, mais de uma bíblia, além de legiões de teólogos e
exegetas bíblicos – tudo no melhor estilo ópio do povo que os marxistas tanto
execraram nas religiões.
Portanto,
não existe um sistema coeso chamado “esquerda”, simplesmente porque esquerda e
direita são conceitos muito relativos e é muito fluida a fronteira entre ambas.
Atitudes revolucionárias de trinta anos atrás podem ter uma conotação
perfeitamente reacionária hoje em
dia. E nossas pretensões esquerdizantes com certeza estão
cheias de componentes direitistas. A gente ainda vai comer muito gato por
lebre, se continuar acreditando na falsa dicotomia direita-esquerda.
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