Rubens Shirassu Jr.(*)
Em 31/05/2011 às 15:57
Nem sempre um diploma forma um profissional com talento
nas áreas de comunicação ou artes plásticas. Certa vez, assisti a uma
entrevista entre Antonio Abujamra e Yumbad Bagul Parral (lembra oriente,
mas não significa nada, diz o escritor) que me deixou perplexo, pelo modo de
refletir a vida e o mundo. Pelos sulcos profundos de melancolia e sofrimento em
volta dos olhos, vivos e seu semblante pequeno e sereno. Às vezes, mais
motivado pela experiência do autor que morou debaixo de um viaduto em São Paulo
e, corajosamente, se expôs às armadilhas na selva das ruas, com suas criaturas
que lutam por um espaço. Pelo que comentou na reportagem com Antonio Abujamra,
através da leitura de livros jogados no lixo, aprendeu a olhar os mitos dos
trópicos. Em determinada parte, de forma incisiva e categórica, Abujamra diz a
Parral de ter a visão romântica na puta redentora, talvez, pela influência
marcante em seu livro de Nietzsche.
No entanto, um escritor que ainda não é divulgado pela
mídia, representada aqui pelas televisões e revistas populares, tipo de
bastidores de TV, ou de perfis de celebridades usadas hoje, tornou-se um
fenômeno de vendas em dois anos apenas, na Vila Madalena em São Paulo,
atingindo a marca de 25 mil livros vendidos. Uma edição bancada pelo autor. Da
venda dos livros nos barzinhos, de noite, conseguiu comprar um modesto
apartamento no bairro. A sua coragem e perseverança nos faz lembrar da geração
mimeógrafo nos anos 70...
Até que Yumbad Bagul Parral seja entendido como um
grande pensador, a realidade e a verdade de seus textos se tornem visíveis para
estudiosos dentro do contexto social, sejam captadas e sentidas por
professores, o ensino da Filosofia, Literatura, História e Sociologia,
americana e brasileira, nunca vai cair no trilho certo. A Nação não exalará sua
formação empírica, hordas burocratas literárias continuarão a soprar ranço
acadêmico com estigma, inspiração oca e muitas gerações serão afastadas da
Filosofia, a não ser que tenha a chance de achar um Jean Paul Sartre
brasileiro, de coração leve, que divulgue através de ensaio.
Yumbad Bagul Parral escreveu Santa Puta Redentora
para celebrar uma geração de heróis anônimos e individualistas pelas
circunstâncias, homens que se entregaram à tarefa pouco consagradora de
desfazer as grandes máscaras do “país do futuro” como o status, o poder, a
honra e o caráter. Sua filosofia que pretende desfazer as ilusões nos oferece,
é verdade, uma lucidez em seus textos que ainda parece inebriante e uma
indignação contra a ordem predatória em vigor que atua como um energético!
Yumbad Bagul Parral, como pensador sem amarras, ensinou
que os sonhos, para valer, nunca envelhecem. Santa Puta Redentora aduba
o terreno para um novo estilo de pensar, ajustando a própria mente e o coração
à mais estrita, genuína realidade - única maneira de encarar a mediocridade, a
miséria, ao extremo do capitalismo selvagem e responder, de maneira adequada
aos seus desafios. Nietzsche como Yumbad Bagul Parral, procurou realizar
uma transvaloração de todos os valores clássicos, pretendem - de forma cada vez
mais radical em seus pensamentos - se diferenciar de tudo o que foi pensado,
construir um ponto de vista inteiramente novo na filosofia.
(*) Rubens Shirassu Jr. é designer gráfico e escritor
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