Segunda-feira 1 de maio de 2018 | Presidente Prudente/SP

Diocese divulga nota após possível "praga" de padre

Sacerdote teria "amaldiçoado" fiéis depois de perder apoio e ser transferido

ROGÉRIO MATIVE

Em 31/08/2013 às 14:12

Sacerdote tem direito ou poder divino para amaldiçoar? O questionamento levou a Diocese de Presidente Prudente a divulgar uma nota sobre o assunto, que deixou fiéis da Paróquia Santo Antônio preocupados após declarações de um pároco em uma rede social na internet.

Nesta semana, o padre Ivair Gentil Zancheta, responsável pela paróquia até julho deste ano, criou mais uma polêmica envolvendo sua saída após desabafos impróprios durante missa devido à demolição da estrutura que abrigaria o novo prédio da igreja no Jardim Paulista.

A construção foi considerada irregular pela Justiça, atendendo pedido da Prefeitura de Prudente. Ele também era questionado por frequentadores da igreja sobre gastos e dinheiro arrecadado em festas e campanhas de doações.

Jogou praga

Com o título "Pecados de Sodoma e Gomorra é nada se comparado ao de vocês", o sacerdote lança sua "maldição" àqueles que "ficaram em cima do muro" ou foram contra ele. "E para os inimigos e os que ficaram em cima do muro será peso da maldição que eternamente recairá sobre vocês e sobre seus familiares por muitas gerações. Vocês nem imaginem o que significa terem erguido a mão contra um ungido do Senhor". Após ser anunciado como novo responsável pela paróquia de Teodoro Sampaio, o padre foi transferido para a cidade de Três Lagoas/MS.

"Nunca mais terão felicidade, paz, prosperidade, a doença será a vossa companheira de vossas famílias, serão olhados como escárnios da humanidade... O casamento de vocês nunca mais terá paz, o adultério vos perseguirá, todos os tipos de dependência estarão vos perseguindo (química, álcool, sexualidade desregrada vossas casas, vossos filhos serão o vosso desespero...", completa Zancheta.

Após ser questionado por seguidores em seu perfil na rede social devido o peso das palavras, ele diz estar tranquilo e ciente de seu ato. No mesmo dia da publicação, a Diocese de Presidente Prudente divulgou uma nota assinada pelo bispo Dom Benedito Gonçalves.

Oficialmente, a Diocese nega que o ato seria uma resposta direta ao padre. Porém, o Portal apurou que a medida foi provocada após vários fiéis terem procurado o bispo e outros padres prudentinos "assustados" com as palavras de Zancheta.

Palavra do bispo

No texto do bispo, fica evidente a relação com as declarações do padre. "Não raras vezes, agentes de pastorais, pessoas consagradas e até mesmo sacerdotes, alegando perseguição e injúria de irmãos de comunidade, invocam maldições sobre aqueles que o diz perseguir e até mesmo sobre seus familiares, às vezes pelo simples fato de pensar diferente, ou exigir o justo, o direito, o correto de ações pastorais. Tais maldições geram desordem e sofrimento nas comunidades, causando assim, preocupação e medo em algumas ovelhas do rebanho, principalmente as simples e pequenas", diz Dom Benedito.

"Como Pastor e Guia da Diocese de Presidente Prudente, digo a estes e a todo rebanho: Não tenhais medo de tais maldições; se estamos revestidos da Palavra Divina e enraizados em Cristo, somos mais que vencedores", reforça o bispo.

Por último, o bispo aconselha os fiéis a rezar. "Como Bispo Diocesano, aconselho, como cristãos que somos, que unidos à Igreja, rezemos por aqueles que trazem mágoa, rancor e raiva no coração; por aqueles que nos perseguem, causando sofrimentos a comunidade e aos irmãos, como nos ordena o Senhor", frisa Dom Benedito.

Padre escreve artigo

A polêmica também foi abordada pelo padre Jerônimo Gasques, responsável pela Paróquia São José. Em artigo, ele questiona: "O sacerdote tem poder de amaldiçoar?". "Em geral, as ameaças de maldição surgem quando o fiel contradiz a proposta ou a visão do sacerdote ou a do pastor. É habitual e, carnalmente natural, que pensemos assim. É o nosso homem velho surgindo dos escombros do nosso inferno interior. É um demônio acuado desejoso de sair de sua jaula", pontua.

"Infelizmente não são poucos os líderes que ao se sentirem frustrados amaldiçoam seus liderados. Em nome de Deus, tais pessoas rogam pragas e desgraças para aqueles que em algum momento da vida se contrapuseram a seus sonhos e vontades", completa Gasques.

O sacerdote foi mais além e comparou o ato de "rogar pragas" com trabalhos de feitiçaria, pedindo, na sequência, desculpas aos pais de santo. "O pastor/sacerdote católico não pode e não deve, jamais, cair na presunção de rogar ao Senhor da glória o aparecimento de desgraças e frustrações na vida de seus desafetos, determinando assim a desventura alheia. À luz disso, não tenho a menor dúvida em afirmar que comportamentos como estes não ficam a dever em nada aos trabalhos de feitiçaria feitos por ai (perdoem-me os pais de santo e outrem pela funesta comparação)", fala o padre da Igreja São José.

"É claro que a Bíblia educa as pessoas a respeitarem seus líderes, a honrarem suas vidas, não há dúvida de que eles merecem toda a nossa confiança, enquanto estiverem com sua vida submetida à Palavra de Deus. Enquanto a verdade, a coerência, a honestidade, a pregação imparcial das Escrituras, e a vida digna de um líder, forem suas companheiras. Por isso eu os abençoo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo", conclui.
 

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