Rubens Shirassu Jr.(*)
Em 23/03/2011 às 14:51
Uma vez ou outra, alguém com muita descontração, pergunta-me
qual é a maior coisa que abomino. E a resposta natural é dizer-lhe que o maior
crime contra o bom astral do brasileiro seria suportar uma tremenda virose. Que
mais há para dizer?
É isso mesmo, a tal gripe que congestiona as narinas, que
incomoda você quando atende o telefone: começa uma ardência acompanhada de uma
leve coceira e, quando se quer disfarçá-la, o espirro borrifa como um
chuveirinho de partículas de melecas o bocal do aparelho. Aí você dá uma
soprada no lenço, semelhante a um som de corneta, jorrando mil bactérias pra
todo o lado. Fica espantado com a poluição que emite e, inicia a neurose de
preocupação de não contaminar o ambiente. Caso fique invernado em casa, ou
entocado mesmo, você acaba trocando o lenço
pelo papel higiênico, por questão de economia!
Liga e avisa o chefe do tal “princípio de dengue” e garante que
levará o atestado, não o de óbito, assim que estiver mais disposto. Você se
joga na jaula e vive aquele universo de ostracismo pelo menos uns 15 dias, curtindo
a virose democrática com a sua família. Olha, meus caros leitores e leitoras,
um game tipo “reality show”.
Aquilo o transforma no incômodo “fanho”, pois parece que
conversa pelo nariz. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Diminui as
colheradas de comida, um passarinho que belisca os grãos: um gosto de caqui
verde na boca. O peso ressaca que você sente na cabeça, parece que tomou um
litro de uísque made in Pedro Juan, aquele famoso e popular importado
encontrado nas boas barracas do ramo espalhadas na cidade.
Não sabe se assiste TV ou cochila na cama. Uma inquietação na
sola dos pés, como pisando em braseiro, nada fica confortável, é o fim da
picada, porque tudo incomoda. Despejando o meu rio de lamentações, digo, caros
leitor e leitora, vi que transmutei agora para o monumento da chata gripe
crônica, ou a crônica da gripe devastadora? Calma, bem, diz a Ellen, com aquele
seu semblante de monge Zen.
Duvido que você ficaria calmo. Há muito tempo que eu não vejo
uma pessoa calma. O Dalai Lama, por exemplo, eu nunca consegui entender se
aquela cara é de calma, gagaismo ou se ele está de cara cheia de chazinho. Eu
sei que é falta de respeito e imaginação minha, mas que o Dalai tem cara de
quem está chapado, tem.
E ainda por cima, para lançar-me no lamaçal de melecas, na
última sexta-feira, um amigo Xará convidou-me para tomar uma cerva bem gelada.
Deu um tremendo nó de marinheiro e espremi os olhos ao ter que não aceitar o
convite ao telefone.
Pela rouquidão, febre interna, tosses esparsas, dores nas
juntas e pulmões, no começo da noite, sentia como se estivesse sendo enforcado
junto à dificuldade em engolir a saliva e respirar. Era o sinal que a
abominável virose está alojada dentro de mim. Tô fora, que isso é papo de
boiola abduzido por ET!
A coisa que abomino é quando chego em casa e sei que lá na
geladeira tem uma dúzia de cervejas, geladinhas, me esperando. Só que a minha
virose resolve esfolar a garganta e fico com uma tosse seca e irritante.
Aquelas melecas escorrendo, até os pingos caírem dentro da
comida ou seja do café, dão a impressão que a gente chora sem motivo sério,
deixa a gente com ar de boca mole.
E aquele chuveiro difícil de acertar a temperatura ideal da
água? Geralmente, acontece em hotéis, mas em casa? Você fica ali uns dez minutos
até conseguir não ficar nem quente nem fria. E, depois que você está lá, numa
boa, de repente fica frio, de repente fica quente. Nunca se consegue o ideal.
Tem que começar tudo de novo e a gente lá, todo ensaboado, no frio.
Eu afirmo que não sou hipocondríaco e nem viciado em farmácia.
Mas a maior coisa que abomino é gente que se passa por farmacêutico, receitando
remédio para curar gripe. Aparecem os ditos curandeiros justamente na hora que
você está atordoado e, com o corpo moído de cansaço! Pode uma coisa dessas? Mas
gostaria que alguém descobrisse uma fórmula de soro antiviral, principalmente,
antes do início do outono e inverno! Porém, se perguntar como vou querer,
direi: - Sem conversar muito sobre as ”fórmulas milagrosas”.
(*) Rubens Shirassu é designer gráfico e escritor