Eliseu Visconti*
Em 08/02/2011 às 09:53
A expressão “o choro é livre” é
extensamente usada, mas encontra emprego destacado nos esportes. Tal como a
verdade, ostenta duas faces, ou interpretações: pode servir de escárnio:
(perdeu? Pois reclame, o choro é livre!) ou de comiseração: (perdeu? Sente-se
injustiçado? O choro é livre, você tem todo o direito de reclamar!)
Advogados preferem o termo jurídico –
que pode ser jurídico, mas não existe na língua latina – “jus sperneandi,” (o
direito de espernear) porém com uma conotação irônica.
De qualquer maneira, e entrando no
assunto de forma incisiva, a liberdade do choro aplica-se, qual roupa sob medida,
à política. Estamos em plena fase de eleições de Mesas Diretoras de Câmaras
Municipais, Assembléias Legislativas, Câmara dos Deputados e Senado Federal.
Estes momentos emocionantes, que causam
muita vez suspense e frisson, mas também júbilo e decepção, sempre associados à
política, compõem o cenário preferido daqueles que foram eleitos pelo voto
popular, mas que nem sempre agem no
interesse dos eleitores. O palco político é onde se encenam as negociações, as
negociatas, as promessas e os compromissos nem sempre honrados, e as traições.
Há os candidatos que logo se anunciam,
os que fingem humildade e desprendimento, para depois serem ungidos (né,
senador José Sarney?) e os que apostam no escuro, seja o que Deus quiser.
Os cargos das tais mesas diretoras
oferecem, quase sempre, vantagens aos detentores: muitos assessores, que em
geral dividem seus salários com os chefes, gratificações, automóveis, viagens e
mordomias diversas. A escolha de um assessor é um privilégio que se confere a
um cidadão competente ou a um amigo de fé.
Assessores formam uma casta denominada
“de confiança,” mereça-a ou não. Políticos eleitos são im(P)unes, mas
assessores são demissíveis ad nutum, ou seja, por decisão única do chefe.
Um bom assessor, como dito, conhece o
seu ofício, é leal e não vive de intriga com colegas e superiores. Um assessor
“político” é aquele que, mesmo sem ser especialista, é mendaz, ardiloso,
enxerido e bajulador. Procura ser a sombra do chefe e esmera-se em denegrir os
colegas. Veste o traje do “boa praça,” e se a ocasião se apresentar, vende-se
despudoradamente.
Por ser agradável e articulado, é logo
entronizado no seleto grupo dos poderosos. Tais assessores seguem a máxima de
Guareschi, que afirmou, uma vez, que a verdade é aquela que é, mas segundo a
lógica comum, jamais se admite que a verdade seja diferente daquela que deveria
ser.
Por este motivo, eles, os amigos e
colegas de conciliábulo, afirmam, ao ver os assessores técnicos, seus
desafetos, serem defenestrados, e por isso se sentirem injustiçados, que “o
choro é livre.”
Para esses seres indignos resta, como
conclusão, recordar Quincas Borba, personagem de Machado de Assis: “Ao
vencedor, as batatas.”
Sic
transit gloria mundi.
(*) Eliseu Visconti é jornalista e escritor
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