Segunda-feira 1 de maio de 2018 | Presidente Prudente/SP

O choro é livre

Eliseu Visconti*

Em 08/02/2011 às 09:53

A expressão “o choro é livre” é extensamente usada, mas encontra emprego destacado nos esportes. Tal como a verdade, ostenta duas faces, ou interpretações: pode servir de escárnio: (perdeu? Pois reclame, o choro é livre!) ou de comiseração: (perdeu? Sente-se injustiçado? O choro é livre, você tem todo o direito de reclamar!)

Advogados preferem o termo jurídico – que pode ser jurídico, mas não existe na língua latina – “jus sperneandi,” (o direito de espernear) porém com uma conotação irônica.

De qualquer maneira, e entrando no assunto de forma incisiva, a liberdade do choro aplica-se, qual roupa sob medida, à política. Estamos em plena fase de eleições de Mesas Diretoras de Câmaras Municipais, Assembléias Legislativas, Câmara dos Deputados e Senado Federal.

Estes momentos emocionantes, que causam muita vez suspense e frisson, mas também júbilo e decepção, sempre associados à política, compõem o cenário preferido daqueles que foram eleitos pelo voto popular, mas que nem  sempre agem no interesse dos eleitores. O palco político é onde se encenam as negociações, as negociatas, as promessas e os compromissos nem sempre honrados, e as traições.

Há os candidatos que logo se anunciam, os que fingem humildade e desprendimento, para depois serem ungidos (né, senador José Sarney?) e os que apostam no escuro, seja o que Deus quiser.

Os cargos das tais mesas diretoras oferecem, quase sempre, vantagens aos detentores: muitos assessores, que em geral dividem seus salários com os chefes, gratificações, automóveis, viagens e mordomias diversas. A escolha de um assessor é um privilégio que se confere a um cidadão competente ou a um amigo de fé.

Assessores formam uma casta denominada “de confiança,” mereça-a ou não. Políticos eleitos são im(P)unes, mas assessores são demissíveis ad nutum, ou seja, por decisão única do chefe.

Um bom assessor, como dito, conhece o seu ofício, é leal e não vive de intriga com colegas e superiores. Um assessor “político” é aquele que, mesmo sem ser especialista, é mendaz, ardiloso, enxerido e bajulador. Procura ser a sombra do chefe e esmera-se em denegrir os colegas. Veste o traje do “boa praça,” e se a ocasião se apresentar, vende-se despudoradamente.

Por ser agradável e articulado, é logo entronizado no seleto grupo dos poderosos. Tais assessores seguem a máxima de Guareschi, que afirmou, uma vez, que a verdade é aquela que é, mas segundo a lógica comum, jamais se admite que a verdade seja diferente daquela que deveria ser.

Por este motivo, eles, os amigos e colegas de conciliábulo, afirmam, ao ver os assessores técnicos, seus desafetos, serem defenestrados, e por isso se sentirem injustiçados, que “o choro é livre.”

Para esses seres indignos resta, como conclusão, recordar Quincas Borba, personagem de Machado de Assis: “Ao vencedor, as batatas.”


Sic transit gloria mundi.

(*) Eliseu Visconti é jornalista e escritor

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