Segunda-feira 1 de maio de 2018 | Presidente Prudente/SP

O popular, este anônimo genial

Eliseu Visconti*

Em 24/02/2011 às 16:39

Você já parou para observar a postura e o desempenho de um “popular,” esta figura indispensável a cronistas, fotógrafos e repórteres do dia-a-dia, esta moldura mais do que necessária a qualquer acontecimento público?

Pegue qualquer jornal diário e examine as fotos dos casos diários: você verá, em meio às aglomerações, como personagem anônima, mas perfeitamente identificável, o que se pode definir como “popular.”

Ele está sempre lá, olhando sobre os ombros de alguém, vestido da forma a mais corriqueira, com uma expressão a um só tempo vaga, mas profundamente atenta.

O popular é aquele que serve de fundo a uma foto; não é belo e nem vistoso, mas sem ele não existe o acontecimento.

Que tal um carro destroçado, num mortal abraço a um poste, o sangue escorrendo pela porta arrebentada, sem um popular à espreita?

Que tal um cadáver, coberto com um saco preto, a ponta dos pés à mostra, sem a formidável presença do popular?

Tudo isso pareceria uma simples montagem fotográfica, sem maiores atrativos, não fora a presença do popular, que legitima a ocorrência.

Muitos repórteres colhem dos populares preciosos depoimentos: “eu vinha atravessando a rua, quando aquele carro escorneou o poste. Foi um barulhão. Sangue prá todo o lado. O cachorro conseguiu escapar.”

“Mas que cachorro, amigo?”

“Ora, aquele vira-latas que o carro quase atropelou!”

No dia da Imprensa, ou do Repórter, dever-se-ia conceder um troféu a um popular.

Ou quem sabe, a ABI poderia erigir uma estátua ao popular, este herói, testemunha e
personagem da vida do cotidiano?

(*)Eliseu Visconti é jornalista e escritor

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