Segunda-feira 1 de maio de 2018 | Presidente Prudente/SP

Reação em cadeia de massificação, por Rubens Shirassu

*Rubens Shirassu Júnior

Em 03/10/2018 às 09:16

Sem essas condições o ato de julgar e de responsabilizar seria influenciado por elementos intrínsecos e extrínsecos, determinando os resultados finais

(Foto: Ilustração/Rubens Shirassu)

No atual modelo de sociedade, ao qual a educação está vinculada, espaço este propenso à prática de barbárie e do mal banal, deve-se compensá-la a partir de uma postura ética voltada para essas questões?

Pensar essas questões automaticamente remete ao tema da autonomia, ainda que não desista de uma educação, de uma cultura para a autonomia, penso pelo caminho da negativa, assinalando os limites e desafios para se chegar, pela educação e pela cultura, a uma autonomia de fato. Uma vez que a própria realidade dos processos educacionais é tomada pelos pressupostos de uma cultura alienante.

A proposta para combater a barbárie seria, por conseguinte, uma educação para a autorreflexão em busca do sentido filosófico a respeito do processo de coisificação da sociedade, da adesão cega aos coletivos, do caráter manipulador e da ausência de consciência (ou consciência coisificada).

Estas são consideradas potencialidades da barbárie enquanto dão suporte à frieza das pessoas e interditam as experiências do pensamento. A frieza inviabiliza nos homens a experiência. Daí a relação entre experiência e pensamento.

Assim, nem podemos apontar soluções simplistas para o problema da banalidade do mal. Tampouco acredito em medidas revolucionárias e teorias que abriguem o sistema como um todo, o que, de certa forma, os regimes totalitários fizeram.

E isso se aplica, inclusive, à educação com suas reformas pedagógicas e seus métodos padronizados visando a anular as diferenças individuais. É importante dar condições para que as pessoas possam pensar por si mesmas, como forma de oposição aos processos massificantes da sociedade atual, por meio de uma atitude de pensar sobre o sentido dos acontecimentos com os que estão chegando, estamos criando as bases para o pensamento.

Estamos partilhando o mundo comum. Assim, os professores e os artistas podem propiciar aos alunos e ao público em geral, repensar, recriar e ressignificar o mundo herdado dos mais velhos.

O julgamento e a responsabilidade pessoal, enquanto atitudes éticas, requerem um esvaziamento da pessoa, no sentido de se colocar numa posição de neutralidade em relação às pressões externas e aos conceitos pré-estabelecidos.

Sem essas condições o ato de julgar e de responsabilizar seria influenciado por elementos intrínsecos e extrínsecos, determinando os resultados finais. O pensar deve ser uma atividade totalmente livre de quaisquer condicionamentos, para dar condições ao desenvolvimento da responsabilidade pessoal e do julgamento.

Dessa forma, o pensamento torna a pessoa apta a escolher, e se não pode transformar uma situação na qual está inserido o seu objeto, no mínimo vai desencadear uma profunda mudança naquele que pensa.

*Rubens Shirassu Júnior é escritor, pesquisador e pedagogo. Autor, entre outros, de Religar às Origens (ensaios e artigos, 2011) e Sombras da Teia (contos, 2016)
 

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