Segunda-feira 1 de maio de 2018 | Presidente Prudente/SP

'Prudente precisa acabar com a história trágica do lixo', diz Luizari

Maycon Morano

Em 30/12/2010 às 15:22

No balanço do ano de sua Pasta, o secretário de Meio Ambiente, Fernando Luizari, afirma que Presidente Prudente precisa pôr um fim na “história trágica que é o lixo” no município e dar início a uma nova página na questão ambiental.

Prudentino e de família tradicional da cidade, o engenheiro florestal pontua o que ainda falta para o fechamento do lixão, que já foi chamado de “plantação de sacolinhas plásticas”, e a abertura do aterro sanitário, na série de entrevistas especiais do Portal.

Além da formação superior, ele também é técnico agrícola e fala o que a cidade quer fazer para se tornar destaque nacional na questão ambiental, como a criação de parques ecológicos e o plantio de 50 mil árvores.


Confira abaixo a entrevista completa com o secretário de Meio Ambiente de Prudente:

Portal: Secretário, como era e como está a situação do lixão em Presidente Prudente?


Fernando Luizari:
Quando assumimos a Secretaria do Meio Ambiente, o então secretário estadual de Meio Ambiente, Francisco Graziano, pronunciava e gritava para todo mundo que nós tínhamos uma fábrica de urubus em Prudente e, naquele momento, ele tinha razão. Inclusive no Google a gente podia ver que alguém havia marcado “plantação de sacolinhas plásticas”, porque era exatamente o que você via. A partir da assinatura do TAC [Termo de Ajustamento de Conduta] é que realmente começaram as modificações no lixão de Prudente. O pessoal foi retirado, cercamos toda a área com alambrado e começamos o processo de aterramento. O processo de fechamento do lixão já se iniciou. Ainda existe muito a ser feito. O lixo continua sendo aterrado lá, mas agora existe metodologia. Estamos buscando transformar ele num aterro controlado. O lixo é colocado num local pré-determinado. A Prudenco faz a compactação desse lixo e a cobertura a cada 72 horas.

P: O lixão tem uma data para ser fechado?

FL:
Nós temos o prazo de dois anos após a liberação da Cetesb. Nós dependemos da liberação do aterro sanitário.

P: Onde será esse aterro sanitário?

FL:
A nossa vontade é que ele fique ao lado da estação de tratamento da Sabesp na Rodovia Júlio Budisk, porque ali é o único rio classe 4, que pode receber detritos. Mas nós não queremos lançar no rio nossos chorumes. Pretendemos enviar para dentro da Sabesp para que seja tratado junto com o esgoto e chegue ao rio sem nenhum tipo de agressão. Além disso, existe a questão das distâncias, que é um ponto fundamental. Todas as áreas apontadas por outras empresas estão a cerca de 25, 35 km, que são locais próximos de Alfredo Marcondes, Eneida, Montalvão. Isso elevaria o custo sensivelmente no transporte.

P: Como é feito um aterro sanitário hoje?

FL:
O aterro sanitário nada mais é do que valas onde a gente faz toda a parte de dreno do chorume, a colocação das mantas e depois o lixo é colocado dentro; quando esta célula fica toda cheia, ela é fechada e coberta com outra manta, formando um envelope. Todo o lixo fica aprisionado e os gases saem através de tubulações onde podem ser aproveitados ou queimados. É uma metodologia que tem que ser estudada passo a passo, para que a Cetesb [Companhia Ambiental do Estado de São Paulo] nos dê, ou não, o sinal positivo da área do aterro.

P: E como esse processo para a criação do aterro sanitário de Presidente Prudente?

FL:
Houve uma concorrência pública. Uma empresa de Presidente Prudente ganhou a licitação. Já me entregou a primeira parte do trabalho em novembro. Devem entregar a segunda parte agora, em dezembro, Mas ainda estão fazendo o RAP, que é o Relatório Ambiental Preliminar. Ele é o estudo da área: onde estão as nascentes, onde estão as Áreas de Preservação Permanentes [APP’s]; onde pode ser feito as valas; o lençol freático em que condição está. Porque nós só conseguimos fazer um aterro sanitário numa área se ela obedecer muitas normas que estão pré-determinadas. A empresa tem um prazo para me entregar esse estudo, que é o final de fevereiro. Mas como tem o final do ano, a gente estipula que vamos recebê-lo em meados de março, final de março. Com o projeto pronto em mãos, eu e o prefeito vamos para São Paulo para entregar diretamente na mão do atual secretário de Estado de Meio Ambiente, Pedro Ubiratan Escorel de Azevedo, e para o presidente da Cetesb.

P: Depois desse processo, o que deve ser feito?

FL:
Depois que entregarmos o documento, a Cetesb tem 180 dias para ler esse relatório. Lembrando que para ler esse relatório, a Prefeitura paga para isso. O último documento que entregamos custou cerca de R$ 7,5 mil. Nós vamos pessoalmente entregar, para pedir a eles que isso é uma urgência e cobrar que façam a análise com mais rapidez.

P: E caso a Cetesb venha a negue essa documentação?

FL:
Aí voltamos à estaca zero. Mas o que nos leva a acreditar que aquele local é o ideal é porque quando foi feito o TAC no Ministério Público, o primeiro documento que foi colocado no termo se chamava consulta prévia. A Prefeitura contratou uma empresa, que fez uma consulta prévia sobre aquele local. E a Cetesb respondeu que o documento ideal para a averiguação seria o RAP. Então, eu quero acreditar que se foi feita a pergunta e indicaram qual o documento ideal, eu acredito que o local é passível, porque senão eles já teriam dito que naquele local não pode.

P: Além do lixão e do aterro, o que existe mais de projetos ambientais em Prudente?

FL:
Um dos pontos que estamos trabalhando forte é o Balneário da Amizade. Estamos com uma praça pública feita, fazendo a avenida no contorno no balneário e aguardando a posição de quem vai gerenciar os recursos hídricos do município. Mas vejo que o principal trabalho da Secretaria do Meio Ambiente é o Parque Ecológico do São Mateus e São Lucas. Presidente Prudente não tem nenhuma área verde, um parque. Queremos ter aqui um Parque Trianon, Ibirapuera, numa menor proporção, mas com aquelas condições.

P: O Parque do Povo não seria o local ideal para se fazer isso por já possuir sua área verde?

FL:
Eu não consigo visualizar, ou entrar na minha cabeça, as pessoas andarem no Parque do Povo cheirando monóxido de carbono. Porque ali você anda do lado de uma pista onde os veículos passam, em plena atividade física. Eu fico receoso e me sinto mal como secretário de Meio Ambiente. Gostaria que essas pessoas andassem dentro de um parque fechado, cercado, murado, com muito verde; áreas de lazer, campos de futebol, quadras de vôlei, cinema ao ar livre, fontes luminosa, pistas de caminhada. Já começamos as obras, parte do calçamento. Além disso, está previsto para o início de 2011 a colocação do portal de entrada e o cercamento da área.

P: Qual foi o maior projeto deste ano da Secretaria de Meio Ambiente?

FL:
Não temos nada que se destaque como um grande projeto. Na verdade nós temos nosso maior foco, que é o aterro sanitário e o lixão. Não perco o foco dessas duas linhas. Mas todos nossos projetos são considerados importantes, porque fazemos as coisas com amor, com gosto. O que mais prezamos é o conjunto. Mas além dos já citados, tivemos os cercamentos dos fundos de vale, o horto, o plantio de árvores.

P: Prudente é uma cidade arborizada?

FL:
Prudente é uma cidade arborizada e vem melhorando. Na verba de R$ 49 milhões do Ministério Público nós vamos entrar com um pedido de plantio de 50 mil árvores em Presidente Prudente e a intenção nossa é chegar aos 100 metros quadrados per capta, conforme preza o Município Verde Azul. Prudente hoje tem cerca de 40 metros quadrados por habitante. Contando aí as áreas verdes, que são parques jardins, praças públicas, árvores, Parque do Povo, canteiros centrais.

P: Tem algum projeto ou foco para 2011?

FL:
Temos alguns trabalhos a serem feitos na área ambiental utilizando os recursos da Cesp. Temos r4 49 milhões na Caixa, que é um dinheiro do Ministério Público de da Cesp, para pagamento pelos danos causados ambientalmente. Temos próximo a mata do Furquim. Falta uma área verde para aquele local. E em outras áreas da cidade temos a mata do São Geraldo, que é particular e está em uma situação que a gente pode melhorar. A Vila Aurélio que é um bosque maravilhoso, que pode receber um aporte melhor para atender a população daquela região, perto do Jardim Brasília. Mas 2011 continua sendo o ano que a gente precisa encerrar o lixão de Presidente Prudente e criar o aterro. Esse ainda continua sendo nosso maior foco.

P: A partir daí Prudente poderá focar em outras questões?

FL:
Com a questão do lixão resolvida, minha parte já estará encerrada na questão ambiental em Prudente, porque o dragão já estará morto. Podemos fazer outros trabalhos sem estar com a sombra dele em cima da gente. Depois disso mudamos de página. Vamos subir um degrau e pensar em outra coisa. Meu grande sonho é ver Prudente como destaque ambiental e de limpeza pública, sem o lixão, com aterro sanitário e coleta seletiva em 100% do município. Esse é um sonho. Vamos ver se a gente consegue transformar em realidade.

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