Bispo cuida "pessoalmente do assunto"; construção de igreja estava irregular
ROGÉRIO MATIVE
Em 10/04/2013 às 10:59
Estruturas metálicas tiveram que ser retiradas por invadir metade da calçada
(Foto: Reprodução/Facebook)
Sem projeto aprovado pela Secretaria Municipal de Planejamento (Seplan) e apresentando irregularidades, a construção do novo prédio da Igreja Santo Antônio, localizada no Jardim Paulista, em Presidente Prudente, começou a ser demolida, após decisão judicial. Porém, o assunto provocou um desabafo impróprio do padre responsável pela paróquia durante a realização de uma missa.
Com exclusividade, o Portal obteve cópia do áudio onde o padre Ivair Gentil Zancheta, irritado com a divulgação do fato, afirma que os entulhos vão para "o buraquinho" dos jornalistas que divulgaram a sentença obrigando a demolição da obra irregular. Ouça a fala do padre clicando no ícone do podcast logo abaixo da matéria.
Descontentes com a administração de Zancheta frente à paróquia, alguns fiéis fizeram até uma página na rede social Facebook para cobrar o padre sobre a prestação de contas, dos números apresentados e da obra inacabada e, agora, embargada. Eles questionam os valores apresentados, por exemplo, no balancete de janeiro deste ano. No documento, as despesas ultrapassam a arrecadação em mais de R$ 20 mil. Gastos como R$ 2 mil em aluguel de apartamento e R$ 1,3 mil com manutenção de veículo estão entre as despesas da paróquia.
Entenda o caso
Neste mês, a Prefeitura de Prudente conquistou, em primeira instância, sentença que obrigava a paróquia a demolir a construção por não apresentar projeto aprovado, além das obras invadirem quase meio metro de calçada, colocando em risco a vida de pedestres. A decisão foi proferida pelo juiz Fábio Mendes Ferreira, que concedeu liminar embargando a construção.
Nessa terça-feira (9), a paróquia acatou a decisão e iniciou a desmontagem da estrutura metálica do novo prédio.
Na missa
Em uma missa, durante a homilia - após a leitura do evangelho -, o padre desabafou com os fiéis sobre o assunto. Mas, usou palavras impróprias durante a fala, o que causou constrangimento em boa parte dos católicos presentes na celebração, segundo um ex-participante ativo da comunidade, que pediu para não ser identificado.
"A nossa construção foi negada pelo Poder... Eles são tão bons que a gente até esquece o que fazem. Poderíamos até ganhar [recorrendo], mas vamos cumprir a sentença. Foi um pequeno avanço nos pilares. Como essa rua é extremamente movimentada... Uma rua que quase a gente não consegue andar...", ironizou.
Para o padre, a Prefeitura "enrijeceu" o processo de aprovação do projeto. "Até o promotor, no começo, ele que rezo uma missa todos os dias, deu parecer desde que houvesse compensação. Nós acatamos, só que o poder público enrijeceu", reclamou.
"E para cumprir a sentença vai ter que desmanchar essa estrutura. Mas como a mídia está falando por aí... Só se for o entulho daquele buraquinho dele ou dela porque vamos aproveitar cada centímetro que tem aí", disparou contra a imprensa.
Não satisfeito, Zancheta completou: "Não demolir, porque demolir joga no lixo. Eu não ia jogar no lixo, ia jogar naquele lugar...".
"Os nossos irmãos que estão semeando o joio há algum tempo... Que tudo vai para entulho, não vai... Claro que vai ter um gasto a mais", concluiu.
Sobre o assunto, a reportagem entrou em contato com a Mitra Diocesana, que informou a ausência do bispo Dom Benedito Gonçalves dos Santos. De acordo com a secretaria da Mitra, Dom Benedito "está cuidando pessoalmente do assunto envolvendo o padre Ivair". Ele participa de um encontro de bispos e retorna ao município no dia 23.
O Portal tentou entrevistar o vigário geral Monsenhor Miguel, responsável pela Diocese durante a viagem de Dom Benedito, porém, não obteve retorno até o fechamento da matéria. Padre Ivair também não foi localizado para comentar o assunto.
Investigação
Em 2009, ex-tesoureiro da Igreja Santo Antônio, José Antonio da Silva Garcia, protocolou no Ministério Público Estadual (MPE) denúncia envolvendo o padre Ivair sobre possível desvio de dinheiro de dízimo, venda de pães, rifas, patrocínios em festas, entre outras irregularidades. O processo foi arquivado.
Nesta quarta-feira (10), mais questionamentos foram formalizados perante o MPE. Caberá ao órgão decidir se abre ou não inquérito para apurar os novos apontamentos com pedido de extratos bancários e balancetes das festas realizadas pela paróquia desde 2006, além da quebra do sigilo bancário e fiscal de Ivair Gentil Zancheta.
Atualizada às 17h49 para acréscimo de informação